domingo, 12 de julho de 2009
Sobre as frases de efeito que nunca inventei.
Tenho dito.
Recortei com a memória um pedaço de jornal, com uma notícia das mais bestas no meio de tanta coisa importante acontecendo por aí. Sobre uma cirurgia que põe na frente da íris uma película (?) de colorido diferente - azul ou verde, e castanho talvez para os desesperados. Aos albinos, uma forma de anonimato da sua diferença - dar a cor inexistente à membrana transparente. Mas vira coisa também para dondoca entediada, que invoca em esclarecer escuridão de olhar latino (e que ironia terem de ir ao Panamá para fazer isso!).
E eu, que já fui - e ainda sou um pouco - tão cheia dos meus complexos, pensei no assunto por dois ou três minutos. Já quis ser mais magra, mais alta, ter cabelo mais liso, o nariz mais fino, a voz mais suave... Estranho: nunca me incomodou foi a cor do olhos!
Em território mestiço, olhar claro faz diferença (!). E que diferença seria essa? Nunca me importou saber - tão mais simples ter olhos castanhos que a máscara que "mudasse" isso nunca me pareceu interessante.
Ainda que eu tenha pintado o cabelo de cor diferente. Mudado esse, aquele corte, para dar-me por satisfeita só quando não parecesse igual. O mesmo cuidado, sem querer, nessa ou naquela troca de roupa. A máscara de todo dia de manhã, ao levantar da cama e escolher como apresentar-me ao mundo em códigos vestuários. Uma puta futilidade. Talvez.
Pois puta futilidade, mesmo, acho que é querer esconder a cor do olhar. Esconder.
Mas também eu não me escondo no meu ritual de me disfarçar de mim mesma toda manhã?
Se meu pijama velho me levasse a passear todo dia, sem escovar os cabelos, será que um 'eu' mais genuíno, mas ainda assim diferente de mim, é que sairia andando por aí?
Fico pensando nos índios que dormem e passam o dia todo do mesmo jeito, pelados que seja (nada a esconder!). Tempo de brincadeiras e de de plantar ('trabalho'), o mesmo tempo, e um jeito apenas de ser - sem que se afaste nada da visão. Há as vestes dos rituais, é verdade, mas não há que todo dia ser dia de se esconder.Não se vestem as horas entrecortadas entre este e aquele figurino, esta e aquela passeando pela mesma pessoa.
Não há que se interpretar, então pra que mudar a cor dos olhos...?
...
E as reticências me deixam isso:
"Qual a diferença entre eu que escondo minha roupa de dormir e a dondoca que esconde o colorido dos olhos? Não é tudo uma questão de disfarce?"
- Uma pergunta!
Resposta?
Vai ver não é não (vamos lá, quero fazer fé que não, não me vejo como dondoca - ou não quero me ver). Ela preferia ter a íris azul, talvez achando que veria tudo nessa cor. E eu, eu não minto a minha farsa, apenas represento-a - não escondo a minha mentira, que muito bem não deixa de ser verdade, já que é o genuíno exercício da profissão de mim mesma. Sou minha futilidade no meu teatro de todo, não escondo entre pijamas e badulaques a minha condição nudez de gente - comum.
- Será que não escondo mesmo?
Quero me convencer de que existe uma diferença. Ainda não me parece que o meu teatro seja mais 'legítimo'.
(pausa para questionamento interno silencioso...... ZzZzZz...)
Não, não estou conseguindo e encontro então um bom motivo para ser fujona. Encerro essa crônica, já que encontrei uma pergunta sem resposta, e mais um clichê para a minha infame lista das frases de efeito que nunca inventei.
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Um comentário:
molto intiresno, grazie
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