Estas são as últimas. Prometo.
VII
É a língua de Camões a mais bonita,
Mas não por ser a língua de Camões,
Nem por ter sido amante de Pessoa.
Não por seu sangue latino escarlate,
Por seu passado de glórias marítimas,
Suas conquistas e suas tragédias.
Não por tantos amores impossíveis
Ou por tantos amores desgraçados
Que digo ser a mais bela entre todas.
Não a amo, no entanto, por ser tão bela.
Com ela é que posso sentir saudade
E só com ela, por isto bela, amo.
VIII
Em toda partida no porto
Aquele que segue e aquele que fica
– Sempre aos pares são os que partem –
Na despedida, a dor, com sal expurgam.
Não chores, minha amada mãe,
Por teu filho que fica, mas que parte.
Não temas pelo cais do porto
Pois em todo adeus, Deus está presente
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segunda-feira, 11 de agosto de 2008
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Odes à mãe ausente
V
É tão inoportuno o meu pensar no após,
Ser onírico sou.
Com a morte inquieto-me e não com a vida
Que segue e por mim passa.
Sempre assim é: quando estou cá, não mais estou.
E se estou, não sou mais.
Quando o perfume sinto das folhas que caem
Vislumbro a primavera
E assim que floresce a primeira rosa nossa
Vermelha, vejo-a murcha.
Se há chuva, quero um sol brilhante bem acima
Só pra ver o arco-íris.
Quando o vejo, contudo, não o vejo mais
Pois pelo seu fim temo.
Aquele que, como eu, no amanhã sempre vive,
Certo não viverá,
Já que para os deuses não há sujeito oculto.
Só há sujeito omisso.
VI
Não podemos esquecer de que queimam
Tanto o frio quanto o calor,
De que cegamos quando há escuridão
Ou para o sol olhamos.
Devemos reter na memória o choro
De alegria e tristeza
E lembrar que as árvores perdem folhas
Mas voltam a florir.
Há dor, portanto, na vida e na morte,
E dela não há fuga.
Feito as árvores somente sejamos
E a florescer voltemos.
É tão inoportuno o meu pensar no após,
Ser onírico sou.
Com a morte inquieto-me e não com a vida
Que segue e por mim passa.
Sempre assim é: quando estou cá, não mais estou.
E se estou, não sou mais.
Quando o perfume sinto das folhas que caem
Vislumbro a primavera
E assim que floresce a primeira rosa nossa
Vermelha, vejo-a murcha.
Se há chuva, quero um sol brilhante bem acima
Só pra ver o arco-íris.
Quando o vejo, contudo, não o vejo mais
Pois pelo seu fim temo.
Aquele que, como eu, no amanhã sempre vive,
Certo não viverá,
Já que para os deuses não há sujeito oculto.
Só há sujeito omisso.
VI
Não podemos esquecer de que queimam
Tanto o frio quanto o calor,
De que cegamos quando há escuridão
Ou para o sol olhamos.
Devemos reter na memória o choro
De alegria e tristeza
E lembrar que as árvores perdem folhas
Mas voltam a florir.
Há dor, portanto, na vida e na morte,
E dela não há fuga.
Feito as árvores somente sejamos
E a florescer voltemos.
sábado, 17 de maio de 2008
Odes à mãe ausente
Seguem mais duas Odes.
III
É tão curta a passagem deste dia
Que ao nascer já sabemos o poente
Mas não da noite os mistérios
Que guarda na escuridão.
E pra noite de quem nada sabemos,
Inexorável vai nosso destino
Esperando o alvorecer
Na manhã de muitas cores.
E não há nada que fazer, portanto,
Já que todos nascemos no esplendor
Da tragédia assinalada,
Lindos de morrer. Assim,
Resta para os que sob o sol caminham
Venerar do crepúsculo a beleza
Que só há pela manhã
E também no entardecer.
IV
Quero tanto achar-me
Que pela vida erro em busca de mim,
Tão longe de sim e de não, vou sendo
Este andarilho sem teto.
É isto o que somos
E seremos todos, quer queira ou não,
De nosso abrigo materno, uterino,
Pela força, despejados.
Lembranças não são
Nem nunca serão aquelas janelas
Ou mesmo o pátio ou a porta enguiçada
Nem os cheiros saborosos.
Não será possível,
No futuro, do passado eu viver.
Daquela construção nada sobrou
Que não as sólidas vigas.
Pouco ou nada sei
Se um dia, pra morada, voltarei,
Mas a casa que uma vez me abrigou
Em mim, sempre habitará.
III
É tão curta a passagem deste dia
Que ao nascer já sabemos o poente
Mas não da noite os mistérios
Que guarda na escuridão.
E pra noite de quem nada sabemos,
Inexorável vai nosso destino
Esperando o alvorecer
Na manhã de muitas cores.
E não há nada que fazer, portanto,
Já que todos nascemos no esplendor
Da tragédia assinalada,
Lindos de morrer. Assim,
Resta para os que sob o sol caminham
Venerar do crepúsculo a beleza
Que só há pela manhã
E também no entardecer.
IV
Quero tanto achar-me
Que pela vida erro em busca de mim,
Tão longe de sim e de não, vou sendo
Este andarilho sem teto.
É isto o que somos
E seremos todos, quer queira ou não,
De nosso abrigo materno, uterino,
Pela força, despejados.
Lembranças não são
Nem nunca serão aquelas janelas
Ou mesmo o pátio ou a porta enguiçada
Nem os cheiros saborosos.
Não será possível,
No futuro, do passado eu viver.
Daquela construção nada sobrou
Que não as sólidas vigas.
Pouco ou nada sei
Se um dia, pra morada, voltarei,
Mas a casa que uma vez me abrigou
Em mim, sempre habitará.
domingo, 11 de maio de 2008
Odes à mãe ausente
Seguem duas Odes de uma série que fiz já faz algum tempo. Peço desculpas pelo sentimentalismo do momento.
Em breve, mais Odes estarão desponíveis.
I
Se sei, digo que sei de ouvir dizer
Teu monólogo aos ventos. Eu, criança,
Que aprendi cantigas de teu ninar,
Que disse as palavras que tu disseste.
Mas aquela, tantas vezes,
Aos prantos meus, exaltada,
Primeira entre todas: mãe,
Não é mais pronunciada
Pelos lábios inseguros
De um homem que agora canta
As lembranças musicais,
Ninando-te eternamente.
II
Confundir não deves, amada mãe,
O silêncio, próprio de quem se cala,
Com tua ausência de sons.
Bem sabes que não há pior silêncio
Do que aquele que, calando, diz nada.
Muito disseste, não lembras?
Quando o meu rosto tua mão tocava
E nada! Nada era ouvido – lembraste?
Tu me dizias o mundo!
O teu dizer no passado ficou
Feito estrela que emudece, contudo,
No presente ainda brilha.
Tua voz uma vez dita e não mais,
Segue reverberando em mim, então
Ouça bem: de ti, sou eco.
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