sábado, 17 de maio de 2008

Odes à mãe ausente

Seguem mais duas Odes.


III

É tão curta a passagem deste dia
Que ao nascer já sabemos o poente
Mas não da noite os mistérios
Que guarda na escuridão.

E pra noite de quem nada sabemos,
Inexorável vai nosso destino
Esperando o alvorecer
Na manhã de muitas cores.

E não há nada que fazer, portanto,
Já que todos nascemos no esplendor
Da tragédia assinalada,
Lindos de morrer. Assim,

Resta para os que sob o sol caminham
Venerar do crepúsculo a beleza
Que só há pela manhã
E também no entardecer.


IV

Quero tanto achar-me
Que pela vida erro em busca de mim,
Tão longe de sim e de não, vou sendo
Este andarilho sem teto.

É isto o que somos
E seremos todos, quer queira ou não,
De nosso abrigo materno, uterino,
Pela força, despejados.

Lembranças não são
Nem nunca serão aquelas janelas
Ou mesmo o pátio ou a porta enguiçada
Nem os cheiros saborosos.

Não será possível,
No futuro, do passado eu viver.
Daquela construção nada sobrou
Que não as sólidas vigas.

Pouco ou nada sei
Se um dia, pra morada, voltarei,
Mas a casa que uma vez me abrigou
Em mim, sempre habitará.

Nenhum comentário: