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domingo, 6 de fevereiro de 2011

No meu devido lugar - V

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.

[Cecília Meireles]

No meu devido lugar - IV

Meu Sonho


Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

[Cecília Meireles]

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A física do amor não correspondido

O ponto A declara seu amor ao ponto B.

Logo, do ponto A, a fonte primária,

O amor segue sua trajetória linear rumo ao ponto B.

Ao atingir a superfície de B, dois fenômenos acontecem:

A reflexão, também conhecida como amor não correspondido;

E a refração, que pode desviar o amor de seu objetivo.

Nesse último caso, o amor pode parar no estômago,

E então nasce a paixão.

Pode também parar mais abaixo, o que causará excitação.

Mas mesmo não correspondido, parte do amor deve estar em B.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

No meu devido lugar - II


O Amor, Quando Se Revela

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

[Fernando Pessoa]

No meu devido lugar - I


Sonnet XVII

Who will believe my verse in time to come,

If it were fill’d with your most high deserts?

Though yet, heaven knows, it is but as a tomb

Which hides your life and shows not half your parts.


If I could write the beauty of your eyes

And in fresh numbers number all your graces,

The age to come would say, ‘This poet lies;

Such heavenly touches ne’er touch’d earthly faces.’


So should my papers, yellow’d with their age,

Be scorn’d, like old men of less truth than tongue,

And your true rights be term’d a poet’s rage


And stretched metre of an antique song:

But were some child of yours alive that time,

You should live twice, in it and in my rime.


[William Shakespeare]

domingo, 8 de novembro de 2009

Psiquiatria

Alheios vão os próprios
afetos
correr dentre veias
assustadas.

À imaginação se
incorporam
abraços

desprendidos de
saudades onde não
se pode buscar
a negra calma
dos comprimidos
receitados.

Abracei-te quando
não estavas
perto
deste-me tua boca
e ausência.

Como insônia
eu o tomo
ao meu próprio
defeito
medicações
de solidão.

E quando me fizer
adormecer
cansaço
não me puder
presentear
com fuga
meu torpor será
teu apoio
onde debruçarem
no divã
minhas as angústias
de tantos devaneios.

Meu amor é
ausência,
tão logo minhas
mãos nada me tocam
à boca
solidão de
engolir negras
as tarjas
de exclamação.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Desculpas

Se fosse possível
Ao mar, atirar-me
E acariciar com vermelho
O ego dos deuses,
Então eu o faria,
E guardaria em gaveta
Toda a vergonha trancada
Por cada não dito.

Queimaria também os meus livros,
Todos que tratam de amor,
Em ritual simbólico
De sacrifício humano,
Eu mesmo.

Trocaria o doce dos rios
Por mais um gole de saliva sua
E todo sal dos oceanos
Por mais um gole de suor seu.

Renunciaria a suspiros,
Amordaçando minha ânsia
Ao despejar em diarréia
O amarelo-covarde, a-
-tormenta do medo.

Ah! Quanto eu faria, e muito mais,
Se o condicional fosse um tempo,
Apenas um tempo verbal,
Que não dependesse, em tudo,
De minha rarefeita vontade,
Humana
E acuada.

sábado, 26 de setembro de 2009

PRECLUSÃO

Perco
do tempo
ilusão de voltar.

Ontem disseram-me:
- Agora!
antes percebesse

do tempo

não me apunhalasse.

Fecha-se porta:

o que será do feito
que houve
em tempestade

meu lamento não basta:

- Imtempestivo.

Será mesmo?

Ou que me ilude
angústia em processo

não tramita a vida?

Não transita
em exclamação
julgado meu
que não se fez.

sábado, 12 de setembro de 2009

Deus

Não há relevo em frases
De dentro dos parênteses

Também ninguém se importa
Com as notas de rodapé

Reticências foram esquecidas há muito

Tremas já extintos

Mesmo as vírgulas
Não mais oxigenam a vida

Nada vibra mais com a força original
De um legítimo erre espanhol

Exceto, talvez, para o escritor.

sábado, 29 de agosto de 2009

Resumo II

A baguete ainda quente
A manteiga derretida
O cheiro senil do café
A tarde na sacada
O décimo andar
O olhar para baixo
O domingo:

Um salto imaginário

Em um mundo de ânsias,
Um copo de vinho
E dois analgésicos.

sábado, 15 de agosto de 2009

Resumo I

Há quem prefira flores artificiais
Cujo viço é perene
E a beleza não murcha.

Há quem prefira café sem cafeína,
Antiácidos de abacaxi
E refrigerante sem açúcar.

Há quem prefira o sexo virtual,
O trabalho do parto
E a música eletrônica.

Mas no fim do dia,
Para que serve um quarto
Além de abrigo ao grito?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sucesso em foto 3x4!?!?!?

Aquela uma
página marcada
calendário
3x4
assuta-se
um sorriso.

Quando nela forem
abertas as
recompensas
de outra descoberta
onde estarão
os meus
caminhos de flores
teci distante
do meu retrato.

Espero
de passagem viro
olhos para o que me
derem
do asfalto
os caminhos
que não escolhendo
abraço.

E que me chamam
as datas
passadas fotografias
em cara de susto:

a mesma página
do meu livro
calendário
imensas
orelhas de reviradas
folhas que
não se revivem

apesar de amassadas.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O dia de depois

Um dia novo que se amanhece,
Um dia depois que a gente se conhece,
Um vazio que toma o meu peito,
O pensamento de nada ter feito.

Ah, como seria bom se já soubesse
qu'isso que me cala e me entristece
é vazio dos meus lábios sem teus seios,
é desejo que sei e o que não sei.

Mas quem sente nunca fala,
Pois sentimento tem só alma.
Alma que fala em poesia,

Música, arte, toda a minha heresia.
Escrevo porque me acalma
Minh'alma que sem fala se cala.

XIII

Meus olhos maiúsculos não te vêem mais.
É tempo de cólera no amor e na amizade.
Meus ouvidos já não têm mais a sua voz...

Voz de cantiga sussurrada
Que me deixava toda suada...
Não existe paz.

É tempo de puro desalento,
E o mundo gira muito mais lento.
Todo o dia parece como noite.
Toda noite soa infinita

-Porque a gente nunca fica.

Ficamos há algumas quadras de distância,
Mas nada mais tem relevância.
"Sino el miedo", a tristeza abafada,
O ressentimento e o orgulho.

-É uma amizade que não parece tão pesada,
Mas merecia a pitada de um mergulho.

Um mergulho no oceano da coragem
Que ceifasse entre nós a dissonância,
E quiçá estes fatos parnaseanos.
Chega de tanta redundância!

O tempo nunca muda;
Os homens nunca mudaram;
O mundo é sempre o mesmo.
Contudo, tudo parece mudo...

-Agora, que já não há mais nós.

Todavia, nós, nunca existimos.
Jamais, juntos, desatamos os nós.
E após meses nos descobrimos sós.

-É vazio e branco todo o nosso imo.

E agora, Fulano?
O que fazer agora que o ponteiro
do relógio já não marca mais a hora?

É doída Fulana?
Como levar essa vida dorida e arrasada
Se já não mais pode ser tão fingida?

Dizem que tudo que tem começo
Um dia há de ter fim.
Dizem também, que todo amor
Deve ser vivido até o fim...

Mas onde está o começo disso em mim?
Como pode ser assim,
Se nunca houve amor além de muita dor?
Se nunca houve dor além de muito gim?

Se nunca houve nada,
Há de haver um dia?
Há de haver alegria?
Ou serei sempre afastada?

E a pergunta que fica
é "quem jogou tudo fora?"
Mas agora não é hora
pra metafísica.

Digo:

"Jamais se conhece um animal
que vive fora de seu 'habitát'.
E me desculpe se agi mal.
Mas por favor, não me maltrate."

A vida é assim mesmo: aleija.
A boca que te sorri
Nem sempre é a que te beija.
Erro que cometi...(ou não).

Mas as estações não mudaram por isso.
A primavera continua a dar flores.
E outros amores virão. Abra um sorriso
E caminhe. E onde quer que fores
Não carregue o siso dos amores.

"C'est la vie".
Dura, sofrida, muda
E imunda.
Mas aprecie,
Só temos uma.

E de que adianda um poema?
E de que adianta uma canção?
E de que adianta um amigo?

E pra quê serve o dia ou a noite
Se não podemos voar como o boita?
E pra quê serviria voar?

Ame, e tudo fará sentido.
Goze, e não será fingido.
Mas lembre-se que amores vem e vão
E nestes voos, não perca o coração.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Canção do Exílio

Minha escrita é filha biológica da tristeza.
Pensei em escrever. Precisei escrever. Vivo num Rio de Janeiro frio. Longe de minha terra e de meus amores. Exilado, pensei escrever. Precisei escrever. Mas já tudo estava escrito.
Segue o silêncio obediente de admiração.


Canção do exílio

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite
-Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."

Gonçalves Dias

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dando (e tirando) as caras e os tapas e as caras aos tapas!

Este blog ainda existe. Não é uma construção abandonada, ou um prédio antigo esquecido. Da minha parte (e aposto todas as minhas felizes figurinhas que o mesmo vale para os também desaparecidos Dom Diogo e Beteto), falta tempo, não vontade. A bem da verdade, falta tempo para mim mesma, porque não consigo mais fazer uma das coisas de que mais gosto: escrever! Gosto não é sinônimo e êxito, e é essa a razão do meu sumiço.

Quando falei da parafernalha política desse mundo de meu deus (e sabe-se lá que deus é esse!)em janeiro, disse que esse ano parecia começar pelo fim. Mal imaginava eu que seria assim também naquilo que dizia respeito a mim. Estamos prestes a pendurar as bandeirinhas coloridas de junho, e ainda estou com a ressaca do ano novo. E o pior é que a festa nem foi tão boa assim.

Mas não interessa aqui que eu diga que muito do que se passou entre os números do calendário dos últimos meses foi o oposto ao que eu chamaria de festa. Resumo tudo em uma palavra que não me compromete demais: Amadurecimento. Capaz de despir todas as minhas auto ironias - todas, mas não totalmente, já que aqui é justamente o lugar dela.

Isso, às vezes. Há momento para compartilhar alguns sentimentos que me parecem bonitos. (Poesia? - pelo menos tentada). Algo que não seja segredo meu e só meu. Afinal, não é porque muita gente repetiu Pessoa que não me posso atrever a repeti-lo também (bons versos sempre caem bem!):

"O Poeta é um fingidor"

... o resto vocês sabem, não?

Eu não sei se sou poeta, mas também gosto de fingir. Então, vamos lá:

I (Sorrir....)

Não me espera,
não!
lá me vou
- três tanques de guerra
o grito -
eu peço:
Não me espera!

Amanhã
flores de dou
ao reu despertar
queres sol?
que não me estenda
a tua janela
entenda
- que te dou abraço
e me vou!

Mas não me esmpresta
furados teus
os sapatos que
não!
Não devolvo caminhos
(como, se não os tenho?).


Te converso
comigo somos
concreto e sal
afirmo em falta
tão próximas as ladeiras.

Mas não!
Não me empurra!
que esperar também...
melhor não
é soltar pipas.

Dorme!
E não me conta
absurdo teu!
- porque em outra
linha sonho
ainda com o meu.

II

Querer-te
pra mim
egoísmo
de abraço
ter-te por todo
enquanto eu
fizer-me da
tua ânsia
parte.

Abraçar-te
antes
que te vás
já será
tempo pequeno
para ficares.

Permaneço
em antecipar
tua ausência logo
que partindo


eu vi pássaros azuis.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Conflito da razão desmedida

Nós não podemos ser um.
Se formos, nós não seremos mais.
Se disse que nada disse,
Mentiu:
Nada você não disse!
Melhor, pois, não te dar ouvidos.
Se desse, surdo ficaria.

E raios que o partam! (literalmente?)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Quem eu não sou, feliz é

Quem eu não sou, feliz é.
Quem tu és, jamais serei,
Pois contenta-te com fé,
Isto que eu jamais terei.

Se caminho só, alfim
É porque não tenho calma.
E a alma que tu vês em mim
É mais uma que não me acalma.

Pois sou nada do que sou,
E tudo que em mim existe
Não foi Ele quem me fadou,
E ainda sim não vivo triste.

Só consiste em viver só
Do mundo de toda a gente.
Onde quem sente tem dó
Sentimento em mim ausente.

Não sou nada do que sinto,
Pois nada sinto além disso:
Que sou o que minto
E minto o que pressinto.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pouco seria se eu te beijasse inteira

Pouco seria se eu te beijasse inteira,
Pouco seria se eu te amasse demais,
Pois cada vento que sopra me cheira
A eternidade só nossa e de ninguém mais...

E cada vez que eu te vejo na beira
Dessa estrada que deixamos pra trás,
Nada penso de além que tu me queiras
Como o homem dos teus sonhos e de ninguém mais...

E assim, a minha volta encarna o teu desejo,
Ilha sepulcra de tudo o que tenho feito,
Medo onusto que entoa todo o meu latejo,

Desfigura nossa alma por dentro do peito,
Não só meu, mas também teu, quando não te vejo
Lá, no enlaço dos meus braços em nosso leito.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Brincando de odiar

Assim como o mar
guarda em si tanto sal,
guardarei dentro de mim
todo o seu mal.
.
..
...
Mas nada do que sinto
perdura ao absinto...