domingo, 6 de janeiro de 2008

Não resisti...

... E vou postar agora Ricardo Reis.
Por muito tempo fui reticente. Sempre temi que qualquer poesia de Pessoa jogaria no limbo todas as tentativas poéticas deste blog. Não mais temerei.
Fiquem agora com duas Odes maravilhosas que Ricardo organizou para o que chamaria de Livro primeiro.

II

As rosas amo dos jardins de Adónis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas,
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.

XVII

Não queiras, Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã. Cumpre-te hoje, não sperando.
Tu mesma és tua vida.
Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?

2 comentários:

Anônimo disse...

Não conhecia Ricardo Reis, mas o português apresentado aparenta ser demasiado antigo... O que não é ruim nem bom, dó uma noção de tempo...

Bem... A poesia é muito bonita, gostei ^^

Cecil disse...

O Ricardo Reis é o lado Zen de Pessoa, mas culto. Claro, o real iluminado é Alberto Caeiro, o que conhece o Nirvana, sendo Reis o como que "discípulo culto do mestre zen que sabe todas as escrituras de cor", e que exerceu como ninguém a arte do sublime comprimido e contigo na elegãncia grega...