terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Sobre esperanças e verdades

O que nos resta quando nos tiram toda a esperança? O choque de realidade é o meu melhor palpite. O confronto com a impossibilidade e a inexistência de alternativa nos liberta. Dá alívio. Devemos admitir: a esperança é um fardo. É o próprio peso. Ou melhor: é a prisão de vidro, onde se tem noção da realidade do entorno, mas não se pode experimentá-la porque preso. Quando nos tiram toda a esperança, portanto, ganhamos a liberdade.

Se aqueles que nos desesperançam também são aqueles que nos libertam, aqueles que nos dão esperança são também aqueles que nos trancafiam. De fato, não há presente mais amargo que a esperança. Lembro sempre dos pobres troianos. Ilhados. Como haveriam de ganhar a guerra? Pior do que o cavalo, os gregos deliberadamente deram a esperança. Foram deliberadamente cruéis.

O presente mais doloroso, no entanto, vem daqueles que não querem presentear; daqueles que não querem dar esperança, mas que, agindo assim, enchem de flores os nossos pensamentos. É o trair-se ingenuamente doloroso. É a delação, em nome da amizade, do amigo de infância (para o seu bem; para o meu bem). É aquele “não” que nunca se pareceu com um “não”. O “não” com a cara do “sim”. Essa é a maior dor, que causa a oxidação da alma. A dor da esperança que aprisiona.

O que me leva a crer que só teremos paz quando imperar a verdade. Especialmente a nossa verdade, capaz de derrubar as paredes de vidro. A verdade que sufoca a esperança. A verdade que é o antônimo da esperança.

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