sexta-feira, 27 de julho de 2007

Casa dos espelhos

Tudo se confunde
Nos espelhos da casa
A vida se funde
À morte que abraça.

O amor se engrandece
No menor dos espelhos.
O são enlouquece,
O azul é vermelho.

Mentira é verdade.
Vaidade é inútil.
O inteiro é metade,
A beleza é fútil.

Faço-te crer,
De instante em instante,
Que eu sou você
Sem o mesmo semblante.

A noite é dia
E a reta curvou.
Um sábio sentia:
O fim começou.

Espelhos desabam
Em agonia sutil
Suspiros acabam,
A vida ruiu.

(poema de 2002)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Nota sobre o dia em que ouvi Leonardo Boff

Teria sido desmedidamente mais belo se, em vez deste texto, fosse escrita uma Ode ao mestre Leonardo. Minha intenção, porém, é informar. Desta forma, peço licença aos leitores.

Ontem fui assistir à uma conferência, A Águia e a Galinha - uma metáfora da condição humana, realizada no SESC - Araraquara. O conferencista: Leonardo Boff.
Conhecia Boff de artigos e outras publicações. Teólogo (cristão), sociólogo e ex-frade (Franciscano), ele foi, por mais de uma vez, devido às suas filosofias (principalmente a Teologia da Libertação, com grande influência marxista), silenciado pela Santa Sé (na forma do próprio e atual pontífice). Contudo, somente ontem eu tive o privilégio de ouvi-lo. Pois bem! Isso soará piegas (exatamente a forma como eu quero que soe), mas ele é aquele tipo de figura que enche um ambiente com sua presença. Assim, achei que este fato merecia uma singela homenagem, ainda que as palavras e reflexões do mestre Boff não tivessem me surpreendido.
Longe de ser um profeta das futilidades da auto-ajuda na busca por respostas, Boff procura, em primeiro lugar, elucidar e enfatizar as questões. Nesse sentido, coloca o dedo em algumas feridas abertas, especialmente quando se trata da condição humana, assunto que domina com propriedade. É isso que faz dele algo diferente. Não pelas palavras desta quarta, mas alguém que, com absoluta certeza, deve ser ouvido.

Como disse, meu objetivo era informar. Seguem, portanto, links para um maior conhecimento sobre o tema.

http://www.leonardoboff.com/

http://br.geocities.com/textossobreeducacao/leonardo-boff-1.htm

domingo, 22 de julho de 2007

Link - literatura

Muito interessante! Aqui podemos encontrar alguns textos selecionados de vários autores.
Aproveitem!

http://www.releituras.com/releituras.asp

Links - Música Brasileira

Neste link podem encontrar cd's de música brasileira de qualidade e de difícil acesso.. Muito bom!

http://loronix.blogspot.com/

sábado, 21 de julho de 2007

Saudades de Portugal no Brasil


Fotografia de Belém Neto - Rio Tejo, 2007.


Saudades de Portugal no Brasil

Tudo que me deixa triste
É a distância que existe,
Um oceano todo sem fim,
Que separa você de mim...

Foram só lágrimas minhas
Que formaram essa bacia:
Minha Guanabara...
Que é toda tão rara!

E foi das lágrimas tuas
Que formou-se o rio Tejo:
Onde nadas nua
E onde não há tédio.

Belém Neto 20/07/2007.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

História de amor impossível

Não há amor mais puro
Que o amor destas estátuas.
Olham-se apaixonadamente
E, desde que as conheço,
Elas se amam.
Passaram longos invernos juntas
E sentiram o mesmo frio.
Ao redor, viram árvores
Perdendo folhas e ficaram tristes.
Sentiram um grande pesar
Quando aquela fonte,
Bem no centro do jardim,
Parou de jorrar.
Foram aquecidas pelo mesmo
Bafo quente e, por várias vezes,
Tomaram um mesmo banho,
Quando a chuva do verão chegou.
Ao mesmo tempo, derramaram lágrimas
Enquanto o orvalho da manhã surgia.
Brincaram de se esconder e
Para tal, convidaram a neblina.
Hoje, já se notam os sinais da velhice
E ainda assim, nunca cansaram uma da outra.
Nunca dormiram! Sempre sorriem.
Passaram incontáveis noites,
Iluminadas pela lua cheia,
Com vontade de dançar.
Ah, pobres estátuas!
Uma, de um lado; a outra, do outro.
Um vasto jardim no meio
Mas ainda assim, olham-se apaixonadamente.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Turundumdum aéreo

Nenhum bom cronista perderá a chance de falar do acidente aéreo. Embora eu não seja cronista, muito menos um bom cronista, também não perderei esta oportunidade. Mas minha reflexão não se atem ao acidente em si. O que me espanta é a forma como a imprensa trata o acidente. E como as coisas soam um pouco absurdas..

Antes mesmo da segunda chama se acender, os helicópteros das emissoras de TV já brigavam por uma imagem aterrorizante. Antes mesmo dos helicópteros se encaminharem ao local do acidente, as pessoas que por lá estavam já acionavam seus celulares-câmeras em busca de uma imagem chocante. E as que não estavam por lá, para fotografar e ver o horror, invejavam as que tiveram este “privilégio”.


A vida está tão sem graça assim para precisarmos nos divertir com a desgraça? A imprensa só busca relatar tragédias porque é o que dá ibope, pois é o que o povo quer. Somos, então, um bando de hipócritas por falarmos que queremos paz, que desejamos o bem ao próximo, ou qualquer coisa do tipo, enquanto o que procuramos mesmo são imagens de guerra, filmes de guerra, notícias de terrorismo, notícias de tragédias...


A questão aérea também merece umas palavras. Parece haver algumas coisas erradas. Primeiro, a pista estava em reforma para tornar-se menos escorregadia, porém os pilotos continuam reclamando dos escorregões.. Ao que tudo indica, o airbus já apresentara dificuldades para frear, mas o manual diz que, mesmo depois de apresentada tal falha, o avião pode permanecer em atividade por dez dias!! Que loucura é esta? Se um carro de Fórmula 1 está sem freio, pode continuar em atividade? Se sua bicicleta está sem freio, você continua correndo!? Parece um pouco insano, absurdo! O manual do avião deve dizer: “Pode continuar em atividade por dez dias e, se não matar ninguém, deve ser consertado.”


Isso tudo pode parecer normal, mas não é nada normal, é um grande absurdo! Mas, atualmente, o absurdo se tornou normal; este é um grande problema da humanidade: encarar com normalidade o absurdo. E nesta onda, brincar com números tornou-se uma diversão. Os jornais noticiaram “O Maior Acidente Aéreo Da História Da Aviação Brasileira” com o mesmo gosto, o mesmo sabor, o mesmo clima, no mesmo sentido que se noticia que o Thiago Pereira bateu hoje o recorde do Xuxa, e se tornou o brasileiro com melhor desempenho em um pan-americano. C'est-à-dire, noticia-se um recorde! Qual será o próximo? Que o Brasil lute para bater mais um recorde na aviação! Qual o maior acidente aéreo no mundo? Esta é agora a nossa meta! Ou da imprensa brasileira.. Vamos superar todos os limites, independente de qual seja a implicação disso.


E assim é a nossa sociedade de números e espetáculo. Brincamos com números e esquecemos que por detrás existe vida. Como exemplos, temos o desemprego, a fome, a miséria, as mortes no trânsito, as crianças desnutridas, as crianças sem escola.. Para os policy-makers e para a imprensa não passa de número o que antes foi uma vida.


quarta-feira, 18 de julho de 2007

Corte de cabelo

Podíamos considerá-lo, do ponto de vista artístico, um garoto normal, figura cujo tipo foi extensamente diagnosticado pela literatura. Nestes casos, talvez por dó, a arte pode conceder vidas fantásticas a estes personagens comuns, condimentando a história para torná-la comestível. Infelizmente, para Jorginho, foi isso o que aconteceu.

Era criado em rígido regime militar da fé. Seu pai, tenente-coronel das forças armadas, exigia a disciplina que, como fazia questão de deixar claro – mas em linguagem de guerra –, era necessária para enfrentar uma vida repleta de inesperadas vicissitudes. Sua mãe, uma beata inveterada, não abria mão do ensino cristão. Obrigava Jorginho a freqüentar escola de padre, lugar onde se aprendia a sentir culpa. De lá, o garoto saía apenas aos fins de semana para rever a família.

Naquela época, Jorginho tinha dezesseis anos de idade. Acatava todos os desejos dos pais, sempre muito feliz. Exceto por um: cortar cabelo. Desde criança, o garoto nunca suportara a idéia de ter o cabelo cortado. Ele mesmo não sabia bem o porquê, mas se sentia, ou imaginava sentir-se, estuprado. Odiava mortalmente o seu cabelo. Depois, arrependia-se e, de noite, pedia perdão a Deus. No final de cada reza, bem baixinho, como se fosse as letras miúdas dos contratos comerciais, pedia também que o cabelo parasse de crescer. Daria a vida por isso! Mesmo assim, obrigado pelo pai, passava as manhãs de sábado na sufocante masmorra de Seu Dito.

Conhecer o seu algoz deixava Jorginho ainda mais contrariado. O velho barbeiro era pessoa de bem, impossível de se querer mal. Pai de quatro filhos e uma filha, Seu Dito alimentava sua família conhecendo um único corte de cabelo, o militar. E há doze anos, Jorginho sofria em suas mãos. Contudo, naquele sábado, o garoto sentiu um calafrio de alívio quando ouvia seu pai, ao telefone, dizer que o velório de Seu Dito seria à tarde – o velho não resistira à idade. Calado, o garoto chorou. Todos se comoveram com a cena. Nunca mais teria o cabelo cortado por Seu Dito. Só isso importava e, como ele próprio imaginava, era fato mais que suficiente para esboçar, em qualquer pessoa minimamente decente, aquela alegria chorosa.

De fato, não houve corte de cabelo naquele fatídico sábado. Jorginho não conseguia disfarçar seu bom humor. Durante a semana, ninguém da escola de padres o reconheceu. Sentia-se Sansão revigorado. Fora possuído por força hercúlea. Ele, Jorginho, ganhara sua carta de alforria. Entretanto, sua felicidade durou até momentos antes da missa de sétimo dia do finado barbeiro, quando encontrou sua suposta Dalila.

Naquele sábado de manhã, ainda intoxicado pela felicidade, o garoto foi incapaz de perceber que seu pai já arranjara tudo. Pontualmente, às oito horas e quarenta e cinco minutos, Jorginho se encontrava na frente da antiga barbearia. Eram muitos fatos para um jovem assimilar em pouco tempo. Estava perplexo, estarrecido! Telma, a filha do meio de Seu Dito, assumira o posto do pai. Jorginho entrou em desespero. Empalideceu instantaneamente. Pensou que, se tudo ocorresse da pior forma possível, Telma viveria, pelo menos, por mais quarenta e dois anos e ele não iria agüentar esse sofrimento por tanto tempo.

Na verdade, não houve necessidade de agüentar sofrimento algum. Esses pensamentos terminaram no instante em que Telma, a fim de realizar o serviço, começava a preparar o garoto com capa protetora e borrifada de água no cabelo. É tarefa árdua, porque longa, descrever o que Jorginho sentiu naquele momento. Pode-se resumi-lo, no entanto, de modo superficial: um turbilhão de sentimentos confusos e novos. A causa era óbvia: aquela era sua primeira vez com mulher. Não importava quem era Telma, como era Telma ou se era Telma. Estava extasiado com o novo barulho que a tesoura fazia. Ela e a mulher trabalhavam graciosamente. E a cada esbarrão da cabeleireira, o garoto tremia. Nem se lembrava mais do maldito cabelo e esquecera-se completamente da antiga tortura de tê-lo cortado. Definitivamente, a filha do finado barbeiro mudara a vida de Jorginho.

Nos sábados seguintes, devido à ansiedade, o garoto passou a acordar mais cedo. Já na barbearia, ele pedia à cabeleireira para não usar a máquina. A tesoura prolongaria o seu prazer e, se tivesse sorte, poderia até ser acidentalmente cortado − como foi, de fato, duas ou três vezes, causando-lhe reações parecidas com um orgasmo.

Em três meses, já era visível a dependência, quase química, que acometia Jorginho. Se seu pai não o repreendesse com razão, o garoto cortaria cabelo duas vezes na semana, voltando da escola só para isso. Ele estava obcecado pelo momento. Não! Era paixão. Podia ser Telma ou qualquer outra. Mas seu cabelo tinha que ser cortado por uma mulher.

Assim, desde que Seu Dito morrera, Jorginho vivia a melhor fase de sua vida. Só não contava com os caprichos da arte, que é divina. Demorou um pouco, mas Deus ouvira suas preces de antigamente. Agora podia ser um pouco tarde, talvez até descontextualizado. O fato é que, repentinamente, a saúde de Jorginho se foi. Os médicos descobriram que ele era vítima de uma doença terrível. Ainda bem que, para a satisfação de todos, havia cura. O tratamento seria longo e penoso, como os médicos enfatizaram. Reações colaterais e queda de cabelo ocorreriam inevitavelmente, embora levassem a um final feliz. Em oito meses, o paciente estaria recuperado, firme, forte e com cabelo. Neste ponto da conversa com os doutores, Jorginho não queria ouvir mais palavra alguma. Levantou-se e pediu ao pai para ir embora.

Em casa, abalado pela triste notícia, o garoto precisou de cinco minutos para pensar − nada de disciplina ou fé. Lembrou onde seu pai guardava o revólver, dirigiu-se até o lugar, uniu arma e munição e deu fim à sua vida. Jorge Albuquerque de Oliveira suicidara-se. Suportaria a morte inexorável de uma doença fatal, mas era impossível resistir aos infindáveis longos meses sem ter cabelo para cortar. Morreu com a certeza de que este era um motivo pelo qual valia a pena dar a vida.

domingo, 15 de julho de 2007

Links - Ansel Adams

http://www.anseladams.com/

http://masters-of-photography.com/A/adams/adams.html

Haikai - pt.2

Caso extraconjugal
Álbum de família aumentado
Nasce outro Haikai

Haikai - pt.1

Contrações e dores
Quanto orgulho! É um menino!
Meu primeiro Haikai

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Parábolas da vida e da liberdade

Caros leitores, sabemos que a tentativa de compreender o mundo, de compreender cada época, é recorrente na história humana. E, para esta tarefa, me parece que a literatura, principalmente através da prosa, tem sido bastante útil. As grandes parábolas servem a este papel tão bem quanto nada servira até sua invenção.


Para não irmos muito longe, comecemos por apresentar o Robinson de Defoe: homem ativo, branco, burguês e racional. Eu sei que vocês, leitores, já o conheciam.. Ele é o ideal que a mídia prega, que os politicamente corretos pregam, que a Igreja prega, ele é o famoso empreendedor, o homem que pode “melhorar” o mundo. E não podemos esquecer, meus caros, que é ele quem purifica os homens de cor, subdesenvolvidos, através do trabalho, obviamente!


Passemos ao próximo: Gulliver, de Swift, um ser errante que “passeia” por mundos bizarros, onde os espelhos satíricos, diante da modernização capitalista, refletem a imagem das “virtudes” do homem burguês. Entendamos então Gulliver como a primeira utopia negativa. Dele se seguiu “A Máquina do Tempo”, no qual o conteúdo gira em torno da oposição de classes. Em seguida, como conseqüência das transformações no mundo, ou seja, as guerras, as ditaduras, e as crises, o conteúdo passa a girar em torno de um sistema totalitário. Fazem parte deste contexto as parábolas absurdas de Kafka, “Adimirável mundo novo” de Aldous Huxley, e principalmente “A Revolução dos Bichos” e “1984” de George Orwell.


Aqueles de leitura menos atenta, e aqueles que não percebem o que vivem, acabam resumindo Orwell ao “vigilante da democracia” ou àquele que repudia o “totalitarismo” e demonstra o quanto o capitalismo é mais justo, mais democrático e propulsor da liberdade.. Ledo engano meus caros e já escassos leitores.


Tais democratas não percebem que o mundo de Orwell é, hoje, mais do que nunca, o mundo em que vivemos. A utopia negativa é a nossa realidade. O Ocidente democrático é o centro desse totalitarismo.


O trabalho, enquanto valor, se arraigou por toda a sociedade, e o desejo irracional pelo trabalho dominou o homem, nos transformou em máquinas de produzir, nos embruteceu, nos roubou a capacidade de sonhar, desejar e criar. O que construímos foi um sistema de coerção muito mais cruel e eficiente que qualquer totalitarismo antes visto e vivido. É mais eficiente por ser mais totalitário, e mais cruel porque faz o indivíduo crer que ama o que faz. Quero dizer: os sentidos das coisas se inverteram. Fazemos uma coisa pensando estar fazendo outra: escravidão é liberdade; guerra é paz; morrer é viver; odiar é amar.


Em nome da paz fazemos as guerras. Em busca da liberdade nos escravizamos, doamos a alma a uma entidade que nem alma tem. Nossas vontades não são mais nossas, ou só são enquanto meios para o contínuo proseguimento da vida que não é vida.


O que vivemos hoje é uma sociedade que busca insensantemente sua auto-destruição. Seja pela paz, quer dizer, através da guerra; seja pela vida, quer dizer, através do suicídio; seja pelo bem-estar, quer dizer, destruir a natureza; seja pelo viver, quer dizer, trabalhar à exaustão. A fazenda de Orwell é o nosso mundo, porém muito mais complexo, onde quem manda não é definido (nem o fazendeiro Jones e nem o porco Napoleão), é na verdade uma rede complexa de poderes e órgãos executivos que agem caoticamente, porém eficientemente, em busca de um único fim: o fim da humanidade. C´est-a-dire, um mar sem praia, um rio sem água, uma floresta sem verde, uma cidade sem movimento e um deserto sem areia. A Terra como um grande cemitério e, embora cheio de mercadorias, sem consumidores.


Como já dizia Arendt, “A era moderna trouxe consigo a glorificação teórica do trabalho, e resultou na transformação efetiva de toda a sociedade em uma sociedade operária. Assim, a realização do desejo, como sucede nos contos de fadas, chega num instante em que só pode ser contraproducente. A sociedade que está para ser libertada dos grilhões do trabalho é uma sociedade de trabalhadores, uma sociedade que já não conhece aquelas outras atividades superiores e mais importantes em benefício das quais valeria a pena conquistar essa liberdade.”


Sendo assim, meus leitores fantasmas, sinto prever que só nos resta morrer, já que voltar a viver se tornou tão impossível, dado que não se pode mais sonhar, ou mesmo nem mais se sabe como sonhar..

A canção dos desabafos

Cansei de amar e recitar paixões,
Viverei na clausura de meu ser,
Trancafiado e preso a grilhões,
Esperando a vida anoitecer,
Mas a noite é festa, alegria,
Odeio-me por não merecer
Desfrutar do amor que um dia
Fez-se em mim todo crescente.
E em mentiras o amor crescia
E em verdade ele era ausente.
Já desisti de chegar à vitória
Tornei-me todo descrente,
Sem mérito ou glória,
Sem piedade da vida,
Dura vida simplória,
A qual sinto partida.

(Poema de 2002)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Sinfonia em preto e branco


Rose and Driftwood, San Francisco, California. Fotografia: Ansel Adams.


Instantes após o século XIX dar a sua cambalhota nasceu um garotinho. Atento a tudo ao seu redor, instigado pelas lentes amadoras de seu pai astrônomo, tornar-se-ia, um dia, um fotógrafo. O que poderia metamorfosear-se em frustração, afinal abdicara-se de sua grande paixão, a música e o piano, o fez mágico.


Cada raio de luz que penetrou sua lente engendrou, em suas películas, imagens raras, e de uma “finesse” – do francês, e não do inglês, o mesmo que sutileza, delicadeza, sagacidade – nunca antes vista. Deixou um legado para todo o rol de imagens em P&B que nos deparamos até os dias de hoje.


A peculiaridade desse fotógrafo é que fez, de cada imagem, música!! Cada tom de cinza é uma nota musical, e assim como as notas são indiscerníveis para muitos ouvidos, seus tons também o são para muitas retinas.


O ritmo está na queda d´água, no rio, no céu, na própria água e na textura de cada imagem. Já temos a melodia, e a harmonia fica por conta de cada observador que, conforme navega com seu olhar pela imagem, lobriga os sons e conseqüentemente cria harmonias e melodias.. É uma música improvisada pelo espectador.


Isso não é mero acaso, afinal esse “fotógrafo” criou uma forma de compreender a luz em notação, assim como os sons foram compreendidos em partituras. Por este motivo que Ansel não foi um fotógrafo, mas sempre um músico. Só trocou de instrumento: o piano pela câmera. E o som pela luz. Porém suas imagens não são para se ver, e sim para se ouvir.


Só mesmo um grande mágico para tirar sons da luminosidade! Que toque a música fotógrafo-mágico-maestro!


Como queria falar espanhol!


Se a mim fosse imposto
O pesado fardo de escolher
Uma das irmãs do sul a desposar,
Decerto, a que canta sua beleza
E somente a cada quatro anos
Reúne-se com seus filhos
Não seria a mãe dos meus!

Engana-se o precipitado
Desprezo, nunca o tive
Nem sou Judas a trair.
Em verdade vos digo:
Sinto-me a ser beijado
Pela mais bela camélia
Que uma vida de silêncio
Pode pagar.

Em Sua vontade
Não a hei de questionar
Quis Nosso Senhor presentear-me
Com a letárgica paixão
Sem esquecer de castigar-me
Com a maldita consciência
Para que lembrar eu possa,
Até que a morte nos separe
De que amo a que não tenho
E deito-me
Com quem não amo.


Sofro ao som do tango.

Prelúdios

Exatamente prelúdios, no plural.

Em primeiro lugar, este locus virtual que se inicia hoje é um único prelúdio para diferentes e desconhecidas canções. Todas ainda verdes.

Em segundo lugar, este pequeno texto também é um prelúdio. Anuncia: "óperas de quarta a domingo".

Por fim, não espere dos autores um grande concerto. Eles próprios são um triste prelúdio para um espetáculo inacabado... Mas em tom maior!

Seja bem-vindo!

Arautos da má notícia