terça-feira, 28 de agosto de 2007

Haikai de uma função circular

Chuva entristece.
Triste, eu choro
Chorando, chove.

domingo, 26 de agosto de 2007

Cinema: Glauber Rocha

Para os que ainda não conhecem, segue o link do site do maior cineasta brasileiro de todos os tempos.

http://www.tempoglauber.com.br/

Vale lembrar que o site ainda não está completo, pois a família do falecido diretor ainda tem a intenção de disponibilizar todos os documentos produzidos por ele, o que significa mais de 40 mil.

Abraços! E boa diversão!

Música de qualidade

O post não se endereça aos apreciadores da música, pois eles devem ter melhores e maiores conhecimentos sobre a minha sugestão. Escrevo para os apreciadores aspirantes que ainda não conhecem as sinfônicas do Estado de São Paulo.

Em primeiro lugar, a grande OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de SP):
http://www.osesp.art.br/home.aspx

Em segundo lugar, a deliciosa Banda Sinfônica do Estado de SP:
http://www.bandasinfonica.org.br/v1a/index.htm

Por fim, a Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de SP:
http://www.jazzsinfonica.org.br/

É possível ouvir trechos das músicas de vários CDS nos sites das três sinfônicas.
Para deleite de meu amigo Belém Neto, deixo aqui uma pequena demonstração da Jazz Sinfônica.
Apreciem sem moderação!
http://www.jazzsinfonica.org.br/mp3/cyro50/poemaparajobim.mp3

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Imagem sonora





Castelo Mouro, Sintra - Portugal. Fotografia de Belém Neto



quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O jogo do bicho

Os dois eram os melhores amigos, daquela espécie quase extinta que nós raramente encontramos nos dias de hoje. Conheciam-se mais, um ao outro, do que suas próprias famílias os conheciam. Uma amizade que nasceu na infância, percorreu a juventude, transformou-os em compadres e até em avôs de um mesmo neto. Agora, a amizade havia amadurecido. Não precisavam de muitas palavras para alcançar o entendimento mútuo. Acima de tudo, respeitavam-se. Não havia registros de brigas, calúnias ou traição. Dava gosto de ver os velhinhos.

Naquela tarde, como em todas as outras tardes dos quarenta e sete anos precedentes, Seu Zé e Seu Osvaldo reuniram-se para especular, no botequim da esquina, as possíveis combinações do jogo do bicho para aquele dia. Se chegassem ao consenso, como era sabido pelos freqüentadores do local, nunca deixavam de ganhar um dinheirinho. No entanto, há quarenta e sete anos perseguiam, sem êxito, o primeiro prêmio.

Seu Zé disse ao amigo:
─ Eu sonhei que o Alemão tinha morrido.

Seu Osvaldo respondeu, angustiado:
─ Não brinca, Zé! Eu também sonhei com morte. O problema é que o morto era você.

Prontamente, seu Zé pôs termo à conversa, batendo três vezes na mesa do boteco:
─ Vira essa boca pra lá!

Cabe aqui esclarecer um ponto importante que faz parte da ciência do jogo proibido: sonha-se com morte, joga-se no elefante. E eles jogaram. Foi assim, então, que os amigos ganharam aquela bolada bem gorda. Elefante na cabeça! Um prêmio para a insistência de anos.

É de conhecimento geral que o destino tem por hábito ser inconveniente. Naquela mesma tarde, no caminho de casa, sem tempo de anunciar a boa nova à família, Seu Osvaldo foi pego de surpresa por um ataque cardíaco fulminante.

Seu Zé não se conformava. Inconsolável, chorava mais que a mulher e os filhos do finado. Custou muito tranqüilizá-lo. Contudo, conseguiram fazê-lo dormir.

A despeito de ter sido um sono curto, este foi revelador para Seu Zé. O velhinho sonhou com o amigo morto. Durante o transe, o finado Seu Osvaldo proferia ininterruptamente o seguinte aviso:
─ O Burro, Zé! Amanhã é dia de Burro!

Seu Zé entendeu o recado. No dia seguinte, tão logo acordou, foi ao botequim e, depositando extrema confiança no conselho do amigo, apostou todo o dinheiro que havia ganhado com o elefante da véspera. Após a aposta, era hora de velar o amigo.

Durante a manhã inteira, Seu Zé fitou o corpo sem vida, admirando, em seus pensamentos, aquele último gesto de carinho que o amigo tinha-lhe oferecido durante o sonho. Ele sabia que seria uma grande injustiça ver Seu Osvaldo partir sem uma despedida digna de rei. Afinal, o burro era uma barbada! O enterro seria no período vespertino e, portanto, seria possível saber o resultado ─ ainda que não precisasse, pois o amigo já havia adiantado ─ do jogo do bicho antes do evento. Com o prêmio, a homenagem a Seu Osvaldo seria grandiosa: carreata em carro de bombeiros, incontáveis coroas de flores e um último samba ─ tocado por orquestra, com violino e tudo.

A hora havia chegado. Para dizer a verdade, o enterro já estava atrasado. Todos aguardavam angustiados pela chegada de Seu Zé, conhecido por sua pontualidade marcante. A tampa do caixão ainda estava aberta, esperando para que ele se despedisse do finado. Felizmente, não houve tempo para que aquele momento se convertesse em uma espera repleta de tensão. Seu Zé tinha chegado.

Foi espanto geral. O amigo ainda vivo dirigiu-se, de cenho fechado, até o amigo sem vida e descarregou completamente a munição de sua arma no corpo estirado. O motivo: borboleta na cabeça. O burro não tinha aparecido sequer em um dos prêmios. Não se tratava de dinheiro. O fato era que Seu Zé tinha sido traído por Seu Osvaldo, o melhor amigo! Depois de tantos anos de amizade, não podia tolerar ou perdoar aquele desrespeito. Tinha sido sacanagem... E das boas! Quanta pequenez! Não havia desculpas. Não era dia do burro. Não ouviria de novo o nome do larápio. Matou para sempre o covarde amigo, que esperou morrer para ser morto.

domingo, 19 de agosto de 2007

Facilidades...

O link abaixo leva ao final do arco-íris dos estudiosos da língua inglesa. Trata-se de um dicionário inglês-inglês maravilhosamente completo e grátis.

http://www.thefreedictionary.com/

Boa diversão!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Alphaville, un film de Godard

Jean-Luc Godard est un réalisateur franco-suisse, né le 3 décembre 1930 à Paris. Il est aussi acteur, chef monteur, dialoguiste, monteur, producteur et scénariste. Godard est un figure clé de la nouvelle vague. Peut-être il a été le créateur de la nouvelle vague avec François Truffaut. Il est un cinéaste militant et aussi un révolutionnaire de l'art cinématographique.

Après cette aprésentation, on va parler d'un film de Godard qui s'appelle Alphaville. Dabord, il faut qu'on dise que le film est un peu difficile à comprendre. C'est plus que l'histoire, comme tous les films de Godard. Mais ce n'est pas un filme très complexe que ni l'histoire c'est possible de comprendre – comme dans les films postérieur de Godard, quand il a déjà crée un langage cinematographique très particulier et complexe.

Alphaville est un film de 1965. Le titre, “Alphaville, une étrange aventure de Lemmy Caution”, évoque un programme de télévision avec le personnage Lemmy Caution, qui est l'acteur Eddie Constantine, comme dans le film. Alphaville est présenté comme un film polar. Et comme dans tous les films polar il y a persécution, univers nocturne, la fatalité, et aussi l'amour à première vue que dans Alphaville se passe entre Lemmy, le détective-espion, et la femme qui est peut-être son pire ennemi.

Mais c'est aussi un film de science-fiction, mais sans effets spéciaux, où l'homme et toute la société son trucident par une logique non-humaine. L'ordinateur, Alpha 60, automatise tout le monde, tous les gens. Quand apparaît le livre “Capital de la douleur”, c'est comme un troisième titre du film, le titre qui parle de la douleur de cette société automatisé.

Alphaville est un film poétique aussi. Tout le temps il fait allusion et citation de la poésie de Paul Éluard, l'auteur de “Capital de la douleur”. Et il y a de la poésie dans le film parce que il n´y a pas de poésie dans Alphaville. Les mots, ils disparaissent aussi comme ses acceptions. Mais c´est plus, le film parle sur la philosophie de langage...

Donc, un film de sience-fiction, un film poétique, et aussi un film mythique. Alphaville évoque un passé et un futur porchain (nazisme et fascisme) mais aussi une époque très ancienne, où la poésie et la nuit a paru exister absolument. Une scène belle c'est quand Lemmy ravit Natascha de la nuit de Alphaville comme l'Orfeu. Lemmy dit: “la poésie transforme la nuit en lumière”. Ça c'est un citation d'Éluard, c'est-à-dire que c'est seulement le plongée dans la nuit que permet le naissance de la lumière et d'un nouveau regard. Et c'est jusquement parce que la poésie était perdue qu'elle brillait constantment dans la nuit d'Alphaville.

Le film se passe dans le futur, mais tout ce qui se voit c'est la Paris de 1960. C´est un film de science fiction, mais se présente comme un polar-noir. En plus, c'est presque un film surréaliste, comme dans la scène sur le judgement.

L'histoire du film, c'est l'histoire de Lemmy Caution, un agent secret, qui arrive à Alphaville pour rechercher le scientifique Von Braun. Guidé par Natasha, la fille de Braun, Lemmy découvre la capitale de la douleur.


"C'est un film sur le futur, mais comme nous vivons dans le futur, c'est un film au futur antérieur, c'est-à-dire au présent. " (J.-L. Godard)

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Amnésia

E a lua?
Um astro.
E esta pessoa?
Chama-se Maria.
E esta poesia?
É Pessoa..

E ontem?
Trabalhei.
Mas e hoje?
É sábado.
E amanhã?
Domingo?

O que vê?
Um umbigo.
O que ouve?
Nada.
O que quer?
Não sei.

Vá pra casa e descansa. É emocional.

domingo, 12 de agosto de 2007

Sites sobre Jazz

Alguns sites sobre a história do jazz, e também sobre a teoria.

http://www.sobresites.com/jazz/
http://www.clubedejazz.com.br/
http://www.ejazz.com.br/
http://www.jazzbossa.com/sabatella/index.html

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O cego ouvindo sambajazz

Passeava por uma capital brasileira que luta para respirar um pouco do ar cosmopolita - no bom sentido da palavra - de São Paulo e Rio quando percebi um anúncio: "Sambajazz Trio, no Bolshoi Pub, hoje!"

Logo pensei que não seria o mesmo Sambajazz Trio.. "devem ter formado uma banda por aqui com o mesmo nome".

Mas apesar da desconfiança fui conferir, e que sorte!! Eram os verdadeiros! Sendo assim, nem preciso falar muito sobre o show em si, pois já sabem que foi maravilhoso! Porém, vale destacar que o Kiko mostrou sua criatividade ao piano com belas harmonias e criativos solos; o Luiz com seu ritmo de encher os olhos (ou o quadril, pois que swing formidável!) não fica para trás; e o Neguinho, confundiu a toda a gente com a sua capicidade de ser dois em um.

Explico melhor: feche os olhos e comece a imaginar um trio tocando um sambajazz de altíssimo nível. Um piano, um contra-baixo, e a bateria. Mantenha o som dos três e acrescente um trompete!

Não é mais um trio? Não pode ser! Não.. ainda é um trio.

Foi isto que aconteceu com os cegos, ou desatentos, que presenciavam o show. Pensavam: "quem está tocando este trompete? Quem é o quarto elemento? Por que trio se é um quarteto?

Enfim... o que ninguém espera é que um baterista toque sua bateria perfeitamente - sem deixar nem mesmo o mais exigente dos ouvintes sentir qualquer falta dela - e um trompete ao mesmo tempo, também perfeitamente! Acrescento ainda: em uma mistura de jazz e samba, com um swing pra deixar até mulata carioca com dor no quadril!

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A sobrenaturalidade do futebol brasileiro

Aqueles que são capazes de ler o que escrevo dificilmente discordarão de mim: o brasileiro é o melhor jogador de futebol do mundo.
Para explicar a afirmativa, não serão discutidos os aspectos sócio-econômicos responsáveis pela formação de um grande estoque de mão-de-obra futebolística em nosso país. Também serão excluídas da discussão questões físicas, táticas e técnicas. Quero explicar o sucesso tupiniquim nos gramados abordando apenas uma única dimensão de nossos jogadores: a mística.
Vivenciamos um forte sincretismo religioso. Somos portadores de tradições antigas. Imaginamos o impossível. Acreditamos no fantástico e, não raro, ele acontece. Nossa sabedoria místico-popular é repleta de reflexões que nos ajudam a compreender as mais diversas situações cotidianas, absurdas ou não. Ademais, possuímos uma cartilha com postulados úteis para solucionar, ou até mesmo evitar, problemas da vida. Exemplos não são escassos: quem nunca atribuiu um período de azar ao “mau-olhado” ou ao gato preto que cruzou o caminho? Quem quer casar não deixa o pobre Santo Antônio de ponta-cabeça? Para ficar rico, nada como semente de romã na carteira? O Brasil é místico.
Essa característica mística que possuímos também está presente na esfera esportiva. O futebol, esporte mais difundido em nosso território, é um dos objetos favoritos da ciência popular. Este é o grande motivo de nossa supremacia dentro das quatro linhas. Nossos conhecimentos sobrenaturais nos dão uma ampla vantagem competitiva em relação aos nossos adversários, meros praticantes do esporte. Explico melhor: enquanto o resto do mundo desenvolve a parte física, aprimora a técnica e treina a tática, nós, brasileiros, não nos diferenciamos. O nosso diferencial está na construção histórica da mística. Isso nos permite nos proteger contra o mal e prever o futuro. Estas duas vantagens já nos colocam em posição relativamente mais favorável. Vamos aos exemplos.

Camisa vence jogo. O amante do futebol se lembrará da “Batalha dos Aflitos”, partida épica entre Grêmio, de Porto Alegre, e Náutico, do Recife. Válido pela série B do campeonato brasileiro, o jogo entre estas duas equipes decidiria quem ascenderia à primeira divisão nacional. Durante a partida, o Grêmio teve quatro (isso mesmo!) jogadores expulsos. O Náutico ainda perdeu dois pênaltis. Davi contra Golias. No final, para êxtase do tricolor gaúcho, o Grêmio venceu por um a zero e ainda levou o título da série B. Como um time com quatro jogadores a menos em campo pode ser superior a um time completo? A mística nos dá uma resposta: o Grêmio é um dos times mais tradicionais do nosso futebol. Sua “camisa pesa”, como diriam alguns. Diante das adversidades, seus jogadores se agigantaram. O Timbu pernambucano sentiu a pressão. Amedrontou-se. Foi a reprodução da “Batalha das Termópilas”. Não importaria o tempo de jogo. Poderia ter durado o dia inteiro, mas com o Grêmio fatalmente vencedor.

Quem não faz, toma. Quantas vezes assistimos ao nosso time do coração perder “gols feitos” durante a partida e, na seqüência, tomar um gol quando menos se espera?

Pênalti que não foi, não entra. Esta máxima do futebol é clássica. Quando o juiz apita uma falta (dentro da área) que não existiu, não devemos ficar preocupados. O destino da bola certamente não é o fundo das redes. Comprovei o postulado neste domingo último, ao assistir ao jogo entre Fluminense e Palmeiras. Em um dado momento da partida, quando o time Alviverde vencia, por um a zero, o time das Laranjeiras, o juiz apita, de forma equivocada, um pênalti para o Flu. De fato, a falta ocorreu, mas fora da área. Com toda a certeza, a torcida palmeirense ficou tensa. Para mim, tensão descabida. Final da partida: Fluminense, zero. Palmeiras, um. E uma exibição de gala do arqueiro palestrino.

Os três pulinhos da sorte. Todo jogador brasileiro tem que dar três pulinhos com o pé direito antes de entrar no gramado. Agindo assim, ele está atraindo sorte para si, sabendo que desempenhará um grande papel durante a partida. Os que não agem desta forma, negam um fato descoberto pelas antigas gerações. É como negar a si próprio. Contudo, mesmo os não-praticantes dos três pulinhos devem possuir algum outro talismã da sorte.

Diante do exposto, surge uma questão devastadora: se somos tão diferentes, por que não somos invencíveis? Por que não ganhamos sempre a Copa do Mundo? A resposta é simples: diante da globalização da modalidade e dos interesses crescentemente financeiros dos nossos jogadores profissionais, nosso lado lúdico, místico e supersticioso está cedendo lugar às ideologias estrangeiras, nas quais não há fantasia. Nossos jogadores deixam o país antes mesmo de consolidarem suas concepções sobrenaturais. O dinheiro desmistifica nosso mundo. Assim, quando não acreditamos que a camisa vence jogo, ela deixa de vencer. Quando não acreditamos nos três pulinhos da sorte, deixamos de contar com ela. Quando não vale mais a máxima do pênalti, a bola começa a entrar. Se deixarmos de acreditar no sobrenatural do futebol, deixaremos de fazer a diferença. Portanto, na ausência das relações não-financeiras, cada vez mais caímos na mesmice dos outros. Não diferentes dos demais, somos passíveis de derrota.

domingo, 5 de agosto de 2007

Imperdível

Poucos sabem, mas é possível ler toda a obra do grande Vinícius de Moraes GRATUITAMENTE em um site (se não estou enganado, criado pela família do poeta) muito intertessante. Assim, sugiro, para o nosso bem, a visita a este endereço:

http://www.viniciusdemoraes.com.br/

Aproveitem! Bom divertimento.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

De você para mim

Ah, que vontade louca de dizer que te amo!
E só aumenta, a cada ano, este meu ânimo,
E amplia tanto... E é isto tudo tão insano,
Que me faz crer que só tu podes ser meu amo!

E assim que sobrevivo cada dia.. grávida!!
Da mais pura agonia... Oh vida crisálida,
Que não me deixa alegria nem fantasia,
Pois meu destino ruma só à terra pálida!

E à tua pátria minha eu jamais iria:
-A honra não troco, nem em poesia
Por uma prole que seja tua e minha!...

Beteto 15/06/2007.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Nós e o “cheiro do ralo”

Fui assistir ao filme brasileiro “Cheiro do Ralo”. Vencedor de prêmios, sucesso de crítica e recomendado por vários amigos, o filme foi exibido, pelo preço de um real, em sessão especial, tarde da noite de uma segunda-feira. O preço simbólico fez a sua parte. A sala ficou cheia.

Pude perceber que todos saíram sorrindo, mas incomodados, no final. O filme é repleto de humor ácido e obscuro. Não quero resenhar. Mas “Cheiro do ralo” é um filme sobre o mau-cheiro. Fez-me refletir sobre alguns aspectos da relação entre o povo brasileiro e a política. Evidentemente, o espectador discordará de mim. Como um livro, cada filme também possui seu próprio destino. O destino que eu dei ao filme pode se resumir em uma única cena − para mim, o ponto forte do drama. Talvez, após assistir diversas vezes, minha opinião mude. No entanto − e sinto enorme desprazer por isso − devo narrar, mesmo que insuficientemente, esta pequena cena.

O personagem principal (Selton Mello) trabalha em uma sala ampla onde, em seus fundos, encontra-se um asqueroso banheiro. Deste lugar, devido a um ralo problemático, um terrível cheiro de merda se prolifera e chega até a sala de trabalho. O personagem não se incomoda com o cheiro. Na verdade, o que o incomoda é o fato de as pessoas pensarem que o mau-cheiro vem dele (e não do ralo do banheiro). Assim, aos clientes que entram em sua sala, ele logo avisa:
“O mau-cheiro que você está sentindo vem o banheiro ali dos fundos. Estou tendo problemas com o ralo...”. Contudo, após ouvir a explicação sobre o mau-cheiro, um dos clientes diz:

“O mau-cheiro vem de você!”.

O protagonista nega. Então o cliente pergunta:

“Existe outra pessoa que utiliza o banheiro além de você?”.

Novamente a resposta é negativa. Por fim, o cliente diz:

“Se você é o único a utilizar o banheiro e ele fede, então o cheiro não vem do ralo. Vem de você”.
Como disse, a cena é extremamente rica. Faz-me refletir sobre nós, brasileiros, e a forma como lidamos com a política.
Quando um presidente da república diz que “não sabe de nada” sobre os escândalos de seus antigos amigos, ministros e assessores, nós entendemos: “o mau-cheiro não vem de mim. Vem deles!”. Quando são descobertos crimes de alguns deputados e senadores que, por sua vez, não são punidos, os demais parlamentares e senadores insistem: “o mau-cheiro não vem da gente. Vem deles!”. Paro e questiono:

Quem escolheu os ministros e assessores?
A resposta: o presidente da república, responsável direto.

Quem tem o dever de cuidar das instituições nacionais, como Congresso e Senado?
A resposta: deputados e senadores, responsáveis diretos.

Quem elege todos eles, presidentes, deputados e senadores? Quem é responsável por fiscaliza, protestar, reivindicar, lutar?
A resposta: nós, os eleitores, responsáveis diretos.
Se ainda assim, conscientes de todos os nossos deveres e direitos democráticos, ainda há mau-cheiro no ralo, então eu digo: o mau-cheiro não vem do ralo. Vem da gente.