terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Poema da Passagem (ou um poema frustrado)

A morte que não me chama
ao Tempo
negro felino
de amarelo observar.
Tão hoje vi teu retrato
que na tua vista
de agora, me vi passado.
Me declarei a ti
o que amei
e hoje a mim
me tenho acabado.
As suas mãos
não mais tatearão
velhas paredes de pedra
tão menos pedra
se fez meu sentir.
Quando que me lembro
que na sua partida
será parte a minha
ida, a não além
que eu não possa
ver agora.
E tanto que te choro
a tua ida
para mim sem hora
e tanto que me imploro
muralha azul
de fortaleza celeste!
Tanto que meu cantar
os acordes do fim...
Tanto que me fino
no teu fino sorriso
de não me saber
caber no teu peito
o que preciso.
Que já agora não pedi
nem perdi
a ardência embriagante
minha garganta arranhar.
Tão agora que tua ida
me move
a te aguardar
e saber que não virá.
Tanto que agora
a cauda me toca
os pés pasmos
- os olhos que não sei definir
se não em cor
a sua amarela mensagem,
que não me achei a mim
a minha passagem
do encontro que lacei
em largos tragos
da abstinência silenciosa
do teu curioso afago.
Se é o Tempo
ou você
que a ti tanto
me alucinei...
Se é mentir
dizer da sua boca
que tão longe
tanto a amei...
Se é fugir
que para onde ir
já me abandonei...
Que entre Arcadas
de anos lavados
nos levamos e paramos
longe
onde lenta tentativa
nos tenta levar.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Rascunho não é...

A sugestão da semana é um site interessante sobre literatura.
Tenho que confessar: eu mesmo não tive tempo suficiente de conhecê-lo bem. Fiquei na superfície. Espero que o gelo não derreta.

http://rascunho.rpc.com.br/index.php

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Soneto do Amor Apático

Ai! Eu sinto que te amo tanto!
E toma-me uma dor o peito...
De forma tão vil, te garanto,
Pois sei que o que tenho feito,

Faz só sentir-me louco e em pranto!
E disso não tiro proveito.
Pois sem esse teu belo encanto,
Viver é tudo o que eu rejeito...

Ah.. e sempre que eu te queria,
Não sei o porquê do imperfeito,
É porque quando tu sorrias,

Sentia-me o homem eleito,
A transformar-te em poesia...
Porém, não beijaste o meu leito!!

Beteto 13/12/2007.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Soneto da Incompreensão


Oh, que loucura tem essa mulher?
Diz asneiras.. que não posso senti-la...
Ouço, onusto de uma dor beluína,
Que os frutos deste amor não vou colher!

Ah, soubesse ela como é bom viver,
Ter prazer sendo a minha alta pupila...
Que amor vivido assim jamais oscila,
E nem quando há um atro anoitecer!

De tudo o pior é: me ama também...
E não poderei jamais possuí-la?
Ah, pudera eu lhe mondar o desdém!

Agora o tempo cheira a despedida.
Como um cadáver pálido, porém,
Digo adeus sem volta: sou um homicida!!

Beteto 17/06/2007.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Para degustação

A TRAGÉDIA

NOITE
1ª PARTE

FAUSTO (Intranquilo, ele está sentado num alto mocho ao lado de sua escrivaninha. O quarto em que se acha é pequeno e abobadado)

Estudei ardentemente tanta filosofia,
direito e medicina
E infelizmente muita Teologia,
Tudo investiguei, com esforço e disciplina,
E assim me encontro eu, qual pobre tolo, agora
Tão sábio e tão instruído quanto fora um dia!
Primeiro fui assistente e em seguida doutor;
Dez anos ensinando; autêntico impostor
A subir e a descer por todos os lados
Estudantes à volta em mim sempre grudados
E chego ao fim de tudo ignorante em tudo!
Coração a ferver! Para que tanto estudo!
Não supero em saber os tolos e doutores,
Nem sei mais do que os Mestres, padres e escritores.
Dúvida? Escrúpulo? De tudo já dei cabo.
Não mais me assombra o Inferno, e nem mesmo o Diabo;
Fugiu todo o prazer da minha adolescência,
Não me interessa mais do Direito a ciência,
Nem a tarefa árdua de ensinar,
Aos homens converter e doutrinar.
Não ganhei dinheiro, quase não tenho nada,
Nem a glória do mundo e seus doces prazeres;
Por que viver como se fosse um cão!
Apego-me à magia. É uma salvação.
(...)

Fausto, de J. W. Goethe

sábado, 8 de dezembro de 2007

Completude da ausência

Não tens piedade
e não vens para gracejos.

Não nos pensa enganar
com teu precioso olhar
de pedra transparente.

De fato:

és bela!

és quase tragédia
em teus matizes de rosa
alegria desesperada.

E quanto mais distante
posso olhá-la além
tão mais cínico
se faz

teu desesperado gargalhar.

Que na tua presença
sei odiar-te amando
tua volúpia louca
de ser incompleto.

A completude da tua ausência
- não quero nem imaginar!! -

Odeio-te por te fazeres plena
quando te esvais
em trêmulos anos de procura,
de presente que se vai passando,
enquanto sei que em futuro
te irás passar.

Odeio-te, pureza,
enquanto tão mais aurora
tu te farás em silêncio!

Vida
que de tão magníficos
sentires e olhares,
se afasta em instante só
e és na treva de si mesma
tanta luz
que no seu ser escuridão
- solidão, impresente frieza -
te chamam-te morte!

Café da tarde

Aquela mesa de verdades
Com sábios bules
Xícaras honestas
Colheres, facas e garfos
Fiéis serviçais de tantos anos
Dá abrigo cegamente
Aos pãezinhos inocentes
À manteiga incapaz de fazer mal
Ao chá de boa índole
Ao café de família tradicional
Ao leite sem antecedentes criminais.

Babel de muitas frutas
Todas de boa reputação
Exceto pela maçã
Procurada internacionalmente
Por transgressão delinqüente
E seqüestro de ventre
(Ela é ilha comunista)

Uma vila camponesa
De profissionais liberais
Da broa perfumada
Que se entrega fácil
Do sagrado mel
Que nos cura de tudo
Da goiabada chorosa
Longe de seu queijo protetor

Há outros moradores
Todos bem apessoados
Como a torta de morango
A mais direita que conheço
O doce de leite criança
Com sotaque moroso
Ou o bolinho de coco
Seduzindo muitas bocas

Latino

Menção honrosa
Para a avó mafiosa
Cabeça pensante

Desta violenta operação

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Beijo da língua

Quis amar de muitas formas
Como feijoada e samba
Com gols e braços abertos
Com tiros cordiais
Pelos morros e florestas
Pelos campos
Doces
De saudáveis grãos
Ou cheios de vitamina C

Quis amar incondicionalmente
De terra no olho
Cerrado
Os amantes sem amor
Nômades
Os profetas João
Vão bem
Obrigado
Os camaradas de sangue
Ah camaradas de sangue
Os irmãos do bezerro de ouro
Bem-aventurados sejam eles
Os vegetarianos dos trópicos
As plantas carnívoras
Do plano e do alto
Eles todos

Quis amar à força
Até tristeza em alto-mar
Poesia e fado
Raparigas e retretes
Deus e Camões
Que nunca se entenderam

Não amei
Nem me amaram
Não há sujeito oculto
Nem indeterminado
Na gramática do amor.

Mas o beijo de língua
Com gosto de Champagne
Na tela de cinema
É minha república em greve
Meu te amo traduzido
Français, Je parle français

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Melopéia de São Paulo sustenido

Sarjeta

cinzenta, concreto suspiro:
travesseiros de pedra,
corpos estendidos.

Livre escolha imposta
da liberdade marginal
não ter de ser
por não poder ser.

- E mãos atiradas às moedas
doídas de pedir e de viver.
...

Cheiro paulistano
dos corações arrebentados,
amarelo sujo
de corpos cansados
e almas caladas.

Canção empoeirada
de mortes ignoradas.

Tanto se canta tão mal
aclamada
miséria das ruas,
tão comentada!

(miséria das vidas:
...
maldição ignorada.)

Tenho minhas dúvidas. Não sei se esse é um bom poema, mas foi o primeiro que me veio a essa cabeça de vento quando pensei em postar algo neste blog. De fato, não me importo em pisar aqui com pé esquerdo, já que a confusão que acabo de escrever foi colocada em papel por uma mão também esquerda. E se piso no terreno dos Arautos da Má Notícia, antes de esparramar qualquer coisa flor, deixo um pouco dos agouros ruidosos da minha rotina.
Por enquanto me despeço. Até mais!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Recomendação, a mais forte

Talvez muitos não conheçam ainda. Depois deste post, nada de escusa caso encontrarem-me na rua.
Assistam ao documentário "Vinícius", dirigido por Miguel Faria Jr.

Eu avisei!

Salve o Poetinha!