domingo, 8 de novembro de 2009

Psiquiatria

Alheios vão os próprios
afetos
correr dentre veias
assustadas.

À imaginação se
incorporam
abraços

desprendidos de
saudades onde não
se pode buscar
a negra calma
dos comprimidos
receitados.

Abracei-te quando
não estavas
perto
deste-me tua boca
e ausência.

Como insônia
eu o tomo
ao meu próprio
defeito
medicações
de solidão.

E quando me fizer
adormecer
cansaço
não me puder
presentear
com fuga
meu torpor será
teu apoio
onde debruçarem
no divã
minhas as angústias
de tantos devaneios.

Meu amor é
ausência,
tão logo minhas
mãos nada me tocam
à boca
solidão de
engolir negras
as tarjas
de exclamação.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Desculpas

Se fosse possível
Ao mar, atirar-me
E acariciar com vermelho
O ego dos deuses,
Então eu o faria,
E guardaria em gaveta
Toda a vergonha trancada
Por cada não dito.

Queimaria também os meus livros,
Todos que tratam de amor,
Em ritual simbólico
De sacrifício humano,
Eu mesmo.

Trocaria o doce dos rios
Por mais um gole de saliva sua
E todo sal dos oceanos
Por mais um gole de suor seu.

Renunciaria a suspiros,
Amordaçando minha ânsia
Ao despejar em diarréia
O amarelo-covarde, a-
-tormenta do medo.

Ah! Quanto eu faria, e muito mais,
Se o condicional fosse um tempo,
Apenas um tempo verbal,
Que não dependesse, em tudo,
De minha rarefeita vontade,
Humana
E acuada.

sábado, 26 de setembro de 2009

PRECLUSÃO

Perco
do tempo
ilusão de voltar.

Ontem disseram-me:
- Agora!
antes percebesse

do tempo

não me apunhalasse.

Fecha-se porta:

o que será do feito
que houve
em tempestade

meu lamento não basta:

- Imtempestivo.

Será mesmo?

Ou que me ilude
angústia em processo

não tramita a vida?

Não transita
em exclamação
julgado meu
que não se fez.

sábado, 12 de setembro de 2009

Deus

Não há relevo em frases
De dentro dos parênteses

Também ninguém se importa
Com as notas de rodapé

Reticências foram esquecidas há muito

Tremas já extintos

Mesmo as vírgulas
Não mais oxigenam a vida

Nada vibra mais com a força original
De um legítimo erre espanhol

Exceto, talvez, para o escritor.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

ALUCINANDO!

Com dezessete anos eu acreditava que um dia poderia, quem sabe, tocar Chopin com perfeição. Não que esse fantástico evento não possa hoje acontecer mas, vou ser realista, na hora de traçar a bagunça da minha vida, os deuses não tiveram a bondade de jogar um pouco mais de música nela.
Tanto que naquela época, auge de várias das minhas ilusões (uma idade bastante propícia para isso, convenhamos), tive uma espécie de tendinite bastante bizarra. As pessoas geralmente tem problemas no pulsos, braços e antebraços, talvez. Pois que os deuses resolveram brincar comigo e travaram meus dois dedos... medianos. Sim, bastante sugestivo.
Cheguei a imobilizar a desgraça do dedo do meio da mão direita (pois é, sou canhota!). Como eu não conseguia esticá-lo, foi enfaixado assim..., meio curvado - como um gancho. Dois amigos pentelhos logo notaram a semelhança. Não perderiam, claro, a ótima oportunidade de tirar uma com a minha cara - que da raiva ia a feições de choro.

"Mas você ainda pode tocar xilofone, Gancho!"

É claro que a minha resposta a esse 'consolo' não era nem um pouco educada (já que é pouca toda a falta de educação necessária para dar pitacos nos bons amigos).

Em todo o meu melodrama, a tragédia se desenhava como algo irreversível:

- Nunca mais o piano, nunca mais... - lágrimas e mais lágrimas...

(...e os deuses iam estreitando os caminhos cheios de notas em tons maiores.)

Um ortopedista especializado em mãos, meio como a tia velha que lê a sorte, viu nas minhas que eu não poderia mesmo ser pianista. O nome do pirepaque veio como sentença: dedo em gatilho. (O gancho!) Em estágio pouquíssimo avançado (ainda que doesse horrores quando eu tentava estender... os dedos!). Não era caso cirúrgico. Mas - sabe como é, né? - melhor estudar menos piano, descansar mais as mãos e por que não fazer uma yôga, um pouco de alongamento...

Cortei os exercícios de técnica do Cortot(não foi grande sacrifício, eram mesmo chatíssimos!). Depois, escolhendo, para não estudar demais, entre ler uma peça de Vila Lobos e montar um acordezinhos chinfrins de quem está aprendendo a brincar com cifras, passei a visitar meu professor de música popular todas as semanas com a mesma cara de "sinto muito".
A peça do Vila saiu - e é o melhor que ainda hoje consigo arrancar de um piano. Chegaram os tempos do vestibular, e a paranóia das horas ao lado dos livros de exatas. Aprendi a gostar até da física, que para mim estava no mesmo patamar que o demo.

- E meu professor de piano popular continuava olhando para mim como quem lamenta ver alguém perdendo tempo.
Aí então constatei que seria assim: sem mais aulas de piano. E a tendinite tornou-se um perfeito bode expiatório.

Então tive a brilhante idéia de escrever um conto - que nunca terminei. Uma virtuose (que nunca fui) um dia acordava e, sem saber por que, não conseguia mais tocar. Audições mil marcadas, tanta tanta gente querendo ouvi-la levantar a alma pelas teclas... Os anos de estudo! As possibilidades - meu deus, que horror pensar nas possibilidades que então se tornavam impossíveis...
E ela... simplesmente não entendia por que. Aí então aconteceria algo batante banal, coisa de pretensa escrivinhadora pouco criativa: a personagem passaria a tarde inteira meio que como bêbada, com sucessivas epifanias (todas sem grande sentido, ou não seriam epifanias). Precisa esclarecer as coisas dentro da sua própria cabeça.

Então resolve ficar bêbada de verdade:

Sabe aquela coisa clichê do - estou sozinha, vou a um lugar esfumaçado à meia luz, sento ao lado de um balcão de granito escuro e converso com um garçom de TV americana vestindo um smoking chinfim...? Exatamente!

Ela chega e pede uma garrafa de vinho tinto. Seco. Por que tem que ser dos bons.
Um copo só, sim? (E daí se vai beber a garrafa inteira sozinha?)

Ela, a taça, e um vinho très chique, que ela não sabe por que é chique, mas o que importa mesmo é os outros considerarem chique para invejá-la por seu status superior. Logo não teria mais um centavo mesmo, já que não poderia trabalhar mais. Aliás, não poderia mais se divertir (piano, o seu maior prazer, mais que qualquer outra coisa, qualquer outra coisa. Ponto!).

Era então um cadáver que segurava a taça e despejava o líquido escuro nela.
Mas... que coisa! Um cadáver com os dedões voltados para fora?

(...Se um cara pode fazer sua personagem acordar como uma barata, por que é que a minha não pode acordar com as mãos trocadas?... É, é essa porcaria mesmo o que você leu).

Achou graça. Sempre confundira a direita com a esquerda (estou, neste momento, falando da personagem, ou de mim mesma, que, como eu disse, sou canhota?). O vinho era bom. Bom! Ela até conseguia conversar com os deuses e pensar nesse seu maravilhoso momento como uma ironia, castigo a um personagem chato que em uma série de TV americana - dessas em que aparecem barmans de smoking vagabundo - provoca risos no bando de telespectadores preguiçosos que desperdiçam seu tempo dando atenção a coisas estúpidas como uma série ruim de TV americana).

...

- Preparem-se, agora o final dramático:

Não, ela não sonhou com nada, e nem acorda em um hospital psiquiátrico (calma, acho que ainda não estou tão sem imaginação assim). Levanta-se perfeitamente sã no dia seguinte.

No dia seguinte!

Sem lembrar-se de como voltou para casa (nesse momento lhe ocorre um certo flashback desagradável com o barman, mas prefere pensar que ele foi uma alucinação muito verdadeiramente forte, tanto que um papelzinho rasgado com o número de telefone dele surgiu no bolso traseiro esquerdo de sua calça jeans, que estava jogada do outro lado do quarto), mas sã.

Sã a ponto de achar um absurdo ter a certeza de que notara que suas mãos estavam trocadas (e de considerar a existência de qualquer incidente com o barmam de terno chinfim). Pois então os dedos estavam no lugar certo (sem as mãos trocadas ou a ridícula posição de gancho mediano à direita!).

Foi ao piano. Tentou tocar alguma coisa.

Nada.

O juízo disse-lhe: vá ao médico.

Foi. E a sentença do guru dela foi bem mais benevolente que a do meu. Fadiga muscular, querida. Descanse por uma semana. Tragédia: com sem tocar, deixaria de ser a nº blá blá blá no ranquing de blá blá blá dos melhores dos melhores.

Mas nunca, porém, deixaria de tocar Chopin com perfeição.

Eu... Bom, nunca quis ser pianista por profissão, só por gosto. E por uma tendinite bizarra e vontade de fazer algo tão emocionante quanto estudar direito, deixei de estudar piano.

Bebo de vez em quando e nunca vi as minhas mãos trocadas. Mas às vezes tenho a sensação que de fato alguma coisa está trocada em mim. Será que dentre os caminhos que os deuses me disponibilizaram fui teimar em escolher o errado (aquele das aulas mais soníferas, dos textos mais prolixos, da maior presença de distancionamento emocional da realidade... - tá peguei pesado: não vou dizer que é o curso que comporta o maior número de psicopatas homicidas suicidades, porque a minha grande realização é encontrar na Faculdade os amigos mais fantásticos).

(continuando)se alguma coisa está trocada, fui eu que escolhi trocar. Ao menos a minha personagem escolheu beber e alucinar uma aberração para divertir-se com a própria frustração.

Está aí: preciso alucinar alguma aberração. Depressa, porque quero tudo para ontem!

Para ontem!

Alguém aí tem alguma sugestão?

sábado, 29 de agosto de 2009

Resumo II

A baguete ainda quente
A manteiga derretida
O cheiro senil do café
A tarde na sacada
O décimo andar
O olhar para baixo
O domingo:

Um salto imaginário

Em um mundo de ânsias,
Um copo de vinho
E dois analgésicos.

sábado, 22 de agosto de 2009

Preguiça

Ontem fez frio. Quando, encerrando a jornada do dia para longe dos compromissos e obrigações, botei o pé para fora do ônibus, senti uma baforada de ar úmido que me fez bater os dentes. Enfiei as mãos nos bolsos já arreganhados da minha blusa de lã lilás e andei cinco penosos quarteirões de vento até chegar ao meu apartamento.
Apesar de fria, ainda assim era uma sexta feira, e me questionei se não deveria providenciar para logo estar bem longe dali. Para dizer a verdade, e sem ter o menor medo de me passar por brega (ou melhor, enfrentando todo o meu medo de me passar por brega), seria deprimente outra sexta feira naquele apartamento que mais parece um recorte isolado de tudo. Naquele apartamento - em que eu já tanto fiquei sozinha, na época (nem tão distante assim) em que raramente fazia o esforço de recorrer ao telefone para que as pessoas se lembrassem de mim. Ficar só às vezes é uma questão de pura preguiça. Preguiça de sair de casa, que seja, preguiça de expor-se, e expor-se também ao erro - nesse aspecto a nudez do corpo seria o de menos.
Enfim, fato é que ontem qualquer tentativa de fugir de mim parecia estar tão preguiçosa quanto eu mesma já fui, ou talvez ainda seja. Encontros entre amigos são sempre bons e esse foi o dia dos desencontros - cada um queria uma coisa, cada um no seu lugar. Por fim, conformei-me, pensei nas despesas de fim de mês e constatei que tinha também preguiça de passar dez dias na pindaíba para compensar a balada de sexta feira.
Fiz o que, de costume, seria mais a minha cara. Enfiei-me nos cobertores. Antes tinha pensado em ver um filme. Pena que nenhum dos DVDs da pilha que tenho em casa não conseguiram me fazer sentir menos preguiçosa, ou pelo menos despertaram-me da vontade de assisti-los. A solução foi continuar a leitura de um livrico de bolso que comprei na semana passada.
Eu, o livrico, os cobertores e a minha preguiça. Penso se faria alguma diferença, o que mudaria, se naquele minuto me acordasse de todo esse marasmo alguma voz de timbre morno e certa sensualidade, naquela tonalidade de andar de mãos dadas.

(Tonalidade de andar de mãos dadas:

A minha preguiça me impede de soltar um suspiro.)

Como?

...

E vou ciscando palavra aqui palavra ali no livro que está solto no meu colo. Não estou tão interessada nele assim, na verdade. Só mais uma história de casal. Uma história de um casal confuso. Estivessem os dois sob o meu cobertor, acho que continuariam tão preguiçosos quanto eu. A identidade de um não é a do outro.

E quando apago meu abajour penso que talvez solidão não seja apenas uma questão de preguiça sentimental. Ou ainda que a preguiça sentimental não vive só no meu apartamento só, em uma gelada sexta feira a noite.




[PS: Para os curiosos, o livro é "A Identidade" - Milan Kundera...]

sábado, 15 de agosto de 2009

Resumo I

Há quem prefira flores artificiais
Cujo viço é perene
E a beleza não murcha.

Há quem prefira café sem cafeína,
Antiácidos de abacaxi
E refrigerante sem açúcar.

Há quem prefira o sexo virtual,
O trabalho do parto
E a música eletrônica.

Mas no fim do dia,
Para que serve um quarto
Além de abrigo ao grito?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Férias, divagações, eu e Marjane


Como sempre, eu estava esperando que me aparecesse alguma narrativa interessante para postar. Enquanto isso, fui procurar no meu arsenal de poemas algum que merecesse ser botado aqui. Descobri que ainda tenho muitos versos escondidos, e que prefiro que grande parte deles continue assim - só meus, até que eles se tornem tão distantes, tão passados, que já não estejam mais falando de mim.
Só que, mais uma vez, não queria que esse blog ficasse parado. Então, pensei, vou escrever, mesmo que eu não tenha nenhum motivo especial para isso.
E é geralmente assim que começam as minhas crônicas, quando não tenho nada para fazer, e resolvo juntar em um texto só um monte de pensamentos soltos que vão pousando em mim de vez em quando, ou de vez em sempre.
Agora por exemplo, estou pensando em como essa é uma tarde calma, e como sutilmente está esfriando, e minhas mãos estão ficando geladas. O fim das férias prorrogadas pela suiníssima gripe invisível parece estar mesmo acabando. Uma semana a trás achei ótimo que tivesse tempo para ficar parada.
Não que eu exatamente tenha ficado. A semana teve seu corre-corre nas indas e vindas do meu estágio - que teoricamente deveria me ocupar apenas um dia por semana. De qualquer forma, houve tempo para que eu comprasse um presente dobradinha para meu pai (dias dos pais + aniversário) e ainda me presenteasse com algo que queria ter há tempos.
Não, não algo tão definitivo. Apenas mais uma narrativa para acumular entre pilhas de livros e filmes. Dessa vez um DVD: Persépolis.
Versão nacional, claro, pois a importada não cabe no meu bolso.
Foi um pouco decepcionante constatar que o energúmeno que escreveu a sinopse no verso da capa não assistiu o filme. Eu? ... já tinha assistido - numa dessas minhas idas ao cinema em dia de promoção, sozinha, no fim da tarde, em São Paulo. E também já tinha lido os quadrinhos.
E adorei repetir a dose. A história da Marjane Satrapi se mistura com guerra, ideologia, desilusões amorosas e drogas (acho que essa última parte fica mais explícita na comic novel). Um história de um Iraniana de nariz em pé. Não é de se espantar que estejam usando o Persépoles para falar das loucuras de Irã de hoje (não mudou nada).
Mas a história da Marjane não se resume a um conto político (o que por si só não deixa de ser digno de muita atenção). Diz sim respeito, eu acho, a um certo mal estar de juventude - bastante típico de quem costuma enxergar-se como um 'outsider'.
Talvez por isso - e também pelas passagens que não ficam livres de um certo senso de humor e autoironia - eu tenha me identificado tanto com ela.
Para quem estiver a fim, fica a dica!
E agora... bem, acho que não estou propriamente pensando em mais nada (é possível que se consiga essa proeza: não pensar em nada???).

Encerro por aqui (e essa frase fica como se fosse aquela coisa primária de escrever "fim" ao terminar a redação da tia).

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Sucesso em foto 3x4!?!?!?

Aquela uma
página marcada
calendário
3x4
assuta-se
um sorriso.

Quando nela forem
abertas as
recompensas
de outra descoberta
onde estarão
os meus
caminhos de flores
teci distante
do meu retrato.

Espero
de passagem viro
olhos para o que me
derem
do asfalto
os caminhos
que não escolhendo
abraço.

E que me chamam
as datas
passadas fotografias
em cara de susto:

a mesma página
do meu livro
calendário
imensas
orelhas de reviradas
folhas que
não se revivem

apesar de amassadas.

domingo, 12 de julho de 2009

Sobre as frases de efeito que nunca inventei.


Tenho dito.

Recortei com a memória um pedaço de jornal, com uma notícia das mais bestas no meio de tanta coisa importante acontecendo por aí. Sobre uma cirurgia que põe na frente da íris uma película (?) de colorido diferente - azul ou verde, e castanho talvez para os desesperados. Aos albinos, uma forma de anonimato da sua diferença - dar a cor inexistente à membrana transparente. Mas vira coisa também para dondoca entediada, que invoca em esclarecer escuridão de olhar latino (e que ironia terem de ir ao Panamá para fazer isso!).
E eu, que já fui - e ainda sou um pouco - tão cheia dos meus complexos, pensei no assunto por dois ou três minutos. Já quis ser mais magra, mais alta, ter cabelo mais liso, o nariz mais fino, a voz mais suave... Estranho: nunca me incomodou foi a cor do olhos!
Em território mestiço, olhar claro faz diferença (!). E que diferença seria essa? Nunca me importou saber - tão mais simples ter olhos castanhos que a máscara que "mudasse" isso nunca me pareceu interessante.
Ainda que eu tenha pintado o cabelo de cor diferente. Mudado esse, aquele corte, para dar-me por satisfeita só quando não parecesse igual. O mesmo cuidado, sem querer, nessa ou naquela troca de roupa. A máscara de todo dia de manhã, ao levantar da cama e escolher como apresentar-me ao mundo em códigos vestuários. Uma puta futilidade. Talvez.
Pois puta futilidade, mesmo, acho que é querer esconder a cor do olhar. Esconder.

Mas também eu não me escondo no meu ritual de me disfarçar de mim mesma toda manhã?

Se meu pijama velho me levasse a passear todo dia, sem escovar os cabelos, será que um 'eu' mais genuíno, mas ainda assim diferente de mim, é que sairia andando por aí?

Fico pensando nos índios que dormem e passam o dia todo do mesmo jeito, pelados que seja (nada a esconder!). Tempo de brincadeiras e de de plantar ('trabalho'), o mesmo tempo, e um jeito apenas de ser - sem que se afaste nada da visão. Há as vestes dos rituais, é verdade, mas não há que todo dia ser dia de se esconder.Não se vestem as horas entrecortadas entre este e aquele figurino, esta e aquela passeando pela mesma pessoa.

Não há que se interpretar, então pra que mudar a cor dos olhos...?

...

E as reticências me deixam isso:

"Qual a diferença entre eu que escondo minha roupa de dormir e a dondoca que esconde o colorido dos olhos? Não é tudo uma questão de disfarce?"

- Uma pergunta!

Resposta?

Vai ver não é não (vamos lá, quero fazer fé que não, não me vejo como dondoca - ou não quero me ver). Ela preferia ter a íris azul, talvez achando que veria tudo nessa cor. E eu, eu não minto a minha farsa, apenas represento-a - não escondo a minha mentira, que muito bem não deixa de ser verdade, já que é o genuíno exercício da profissão de mim mesma. Sou minha futilidade no meu teatro de todo, não escondo entre pijamas e badulaques a minha condição nudez de gente - comum.

- Será que não escondo mesmo?

Quero me convencer de que existe uma diferença. Ainda não me parece que o meu teatro seja mais 'legítimo'.

(pausa para questionamento interno silencioso...... ZzZzZz...)

Não, não estou conseguindo e encontro então um bom motivo para ser fujona. Encerro essa crônica, já que encontrei uma pergunta sem resposta, e mais um clichê para a minha infame lista das frases de efeito que nunca inventei.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O dia de depois

Um dia novo que se amanhece,
Um dia depois que a gente se conhece,
Um vazio que toma o meu peito,
O pensamento de nada ter feito.

Ah, como seria bom se já soubesse
qu'isso que me cala e me entristece
é vazio dos meus lábios sem teus seios,
é desejo que sei e o que não sei.

Mas quem sente nunca fala,
Pois sentimento tem só alma.
Alma que fala em poesia,

Música, arte, toda a minha heresia.
Escrevo porque me acalma
Minh'alma que sem fala se cala.

XIII

Meus olhos maiúsculos não te vêem mais.
É tempo de cólera no amor e na amizade.
Meus ouvidos já não têm mais a sua voz...

Voz de cantiga sussurrada
Que me deixava toda suada...
Não existe paz.

É tempo de puro desalento,
E o mundo gira muito mais lento.
Todo o dia parece como noite.
Toda noite soa infinita

-Porque a gente nunca fica.

Ficamos há algumas quadras de distância,
Mas nada mais tem relevância.
"Sino el miedo", a tristeza abafada,
O ressentimento e o orgulho.

-É uma amizade que não parece tão pesada,
Mas merecia a pitada de um mergulho.

Um mergulho no oceano da coragem
Que ceifasse entre nós a dissonância,
E quiçá estes fatos parnaseanos.
Chega de tanta redundância!

O tempo nunca muda;
Os homens nunca mudaram;
O mundo é sempre o mesmo.
Contudo, tudo parece mudo...

-Agora, que já não há mais nós.

Todavia, nós, nunca existimos.
Jamais, juntos, desatamos os nós.
E após meses nos descobrimos sós.

-É vazio e branco todo o nosso imo.

E agora, Fulano?
O que fazer agora que o ponteiro
do relógio já não marca mais a hora?

É doída Fulana?
Como levar essa vida dorida e arrasada
Se já não mais pode ser tão fingida?

Dizem que tudo que tem começo
Um dia há de ter fim.
Dizem também, que todo amor
Deve ser vivido até o fim...

Mas onde está o começo disso em mim?
Como pode ser assim,
Se nunca houve amor além de muita dor?
Se nunca houve dor além de muito gim?

Se nunca houve nada,
Há de haver um dia?
Há de haver alegria?
Ou serei sempre afastada?

E a pergunta que fica
é "quem jogou tudo fora?"
Mas agora não é hora
pra metafísica.

Digo:

"Jamais se conhece um animal
que vive fora de seu 'habitát'.
E me desculpe se agi mal.
Mas por favor, não me maltrate."

A vida é assim mesmo: aleija.
A boca que te sorri
Nem sempre é a que te beija.
Erro que cometi...(ou não).

Mas as estações não mudaram por isso.
A primavera continua a dar flores.
E outros amores virão. Abra um sorriso
E caminhe. E onde quer que fores
Não carregue o siso dos amores.

"C'est la vie".
Dura, sofrida, muda
E imunda.
Mas aprecie,
Só temos uma.

E de que adianda um poema?
E de que adianta uma canção?
E de que adianta um amigo?

E pra quê serve o dia ou a noite
Se não podemos voar como o boita?
E pra quê serviria voar?

Ame, e tudo fará sentido.
Goze, e não será fingido.
Mas lembre-se que amores vem e vão
E nestes voos, não perca o coração.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Canção do Exílio

Minha escrita é filha biológica da tristeza.
Pensei em escrever. Precisei escrever. Vivo num Rio de Janeiro frio. Longe de minha terra e de meus amores. Exilado, pensei escrever. Precisei escrever. Mas já tudo estava escrito.
Segue o silêncio obediente de admiração.


Canção do exílio

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite
-Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."

Gonçalves Dias

terça-feira, 26 de maio de 2009

Dando (e tirando) as caras e os tapas e as caras aos tapas!

Este blog ainda existe. Não é uma construção abandonada, ou um prédio antigo esquecido. Da minha parte (e aposto todas as minhas felizes figurinhas que o mesmo vale para os também desaparecidos Dom Diogo e Beteto), falta tempo, não vontade. A bem da verdade, falta tempo para mim mesma, porque não consigo mais fazer uma das coisas de que mais gosto: escrever! Gosto não é sinônimo e êxito, e é essa a razão do meu sumiço.

Quando falei da parafernalha política desse mundo de meu deus (e sabe-se lá que deus é esse!)em janeiro, disse que esse ano parecia começar pelo fim. Mal imaginava eu que seria assim também naquilo que dizia respeito a mim. Estamos prestes a pendurar as bandeirinhas coloridas de junho, e ainda estou com a ressaca do ano novo. E o pior é que a festa nem foi tão boa assim.

Mas não interessa aqui que eu diga que muito do que se passou entre os números do calendário dos últimos meses foi o oposto ao que eu chamaria de festa. Resumo tudo em uma palavra que não me compromete demais: Amadurecimento. Capaz de despir todas as minhas auto ironias - todas, mas não totalmente, já que aqui é justamente o lugar dela.

Isso, às vezes. Há momento para compartilhar alguns sentimentos que me parecem bonitos. (Poesia? - pelo menos tentada). Algo que não seja segredo meu e só meu. Afinal, não é porque muita gente repetiu Pessoa que não me posso atrever a repeti-lo também (bons versos sempre caem bem!):

"O Poeta é um fingidor"

... o resto vocês sabem, não?

Eu não sei se sou poeta, mas também gosto de fingir. Então, vamos lá:

I (Sorrir....)

Não me espera,
não!
lá me vou
- três tanques de guerra
o grito -
eu peço:
Não me espera!

Amanhã
flores de dou
ao reu despertar
queres sol?
que não me estenda
a tua janela
entenda
- que te dou abraço
e me vou!

Mas não me esmpresta
furados teus
os sapatos que
não!
Não devolvo caminhos
(como, se não os tenho?).


Te converso
comigo somos
concreto e sal
afirmo em falta
tão próximas as ladeiras.

Mas não!
Não me empurra!
que esperar também...
melhor não
é soltar pipas.

Dorme!
E não me conta
absurdo teu!
- porque em outra
linha sonho
ainda com o meu.

II

Querer-te
pra mim
egoísmo
de abraço
ter-te por todo
enquanto eu
fizer-me da
tua ânsia
parte.

Abraçar-te
antes
que te vás
já será
tempo pequeno
para ficares.

Permaneço
em antecipar
tua ausência logo
que partindo


eu vi pássaros azuis.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

...




Quente a tua mão
na minha
o teu tempo
enlaçado ao meu.

Dividir dos mesmos
olhos
o mesmo sentir.

Ah, que vontade
do abraço
que não haverá
mais
ficarem cintilantes
as recordações
da voz o
doce entornar
das palavras assoprar
otimismo
escapa
dos olhos
lágrima.

Distante
a tua mão

da minha
semelhança
tocar o mundo
com dedos que
atentam aos tons
verdes de ser.

Dedos que não
cabem
à despedida
ainda que
se afeiçoem
na tua ausência
essas

Saudades de Abril.






"O inevitável dá as caras de vez em quando. E a gente não tem como deixar de lamentar que seja assim - a humanidade pesa com o tempo. Ninguém descobriu ainda qual seria essa fuga que muita gente deseja desde sempre, e que eu desejaria ter agora (se ela fosse possível): Sendo assim, pois que se aceite assim.
Tudo bem:
Alguma coisa me diz que não é isso o que importa: o limite carnal do tempo não pode restringir a poesia que transcende pela alma."




- Para o meu avô, Fioravante Sarti, o 'Vô Fiore'. Quem teve a sorte de conhecê-lo sabe, um Iluminado: sempre!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Conversão

Dona Ana toma seu terceiro comprimido pela noite. Tira o pirex de cima do copo de requeijão em que repousa fresca água. Bebe três pausados goles. O líquido desce áspero, a traquéia protesta - três vezes dá dos seus trancos.
Respira – Ah! - e enxuga dos olhos cheios de remela a última lágrima do dia.
Tateia pelo controle remoto que está sobre o criado mudo. Toma cuidado para não derrubar o copo, o pirex e os tercinhos de madripérola que sua prima antipática trouxe de Fátima. Encontra-o, sentindo os dedos cansados grudarem na cola do velho durex colocado há meses para segurar as pilhas no seu devido lugar.
Faz três vezes o sinal da cruz.
- Que Nossa Senhora rogue por todos, e que Deus ilumine os pecadores.
Amém. -
Mais três vezes o sinal da cruz.
E o seu corpo gordo roda de um lado para o outro na velha cama de casal, em que só ela se deitava já há tempos.

- Será que alguém deu comida para o coitado do Fredi?

Fica imaginando o pobre do viralata, com a carinha focinhuda sobre as patinhas encardidas, o bigodinho cheio de terra, e aqueles enormes olhos de gente sozinha. Ah, mas que absurdo chamar cachorro de gente!
Estava bem magrinho, era verdade. Mas também não morreria de fome.
E depois... Se fosse levantar para dar comida ao coitadinho, será que teria de rezar de novo? Isso nunca tinha acontecido. Imaginava só o que diria o seu confessor se soubesse que ela, uma senhora tão católica, tinha ido dormir sem fazer a oração. Nem percebe, mas faz novamente o sinal da cruz.
Talvez devesse levantar-se, dar comida ao coitado do animal, e então rezar novamente. Se fosse alimentar o animal e rezasse de novo... Ah, isso seria porque sua primeira oração da noite não tivera muito de fé.
(Ai, ela bem se lembrava de quando aquele padre charmoso do cabelo com rinsagem acaju fez um sermão digno de profeta, e disse claramente só os infiéis é que rezam sem fé.)
Rolou de novo na cama.
- Ai, como fazia calor!
- Ai, coitadinho do Frédi!
Mas, com ele, ela logo se entendia. Daria-lhe uns nacos de uma carne velha esquecida no refrigerador e pediria que a preguiçosa da empregada o levasse para passear. Com Deus é que ela não sabia como podia ser. Pois o cachorrinho, fosse como fosse, estava sempre ali, com seus grandes olhos, suas patas encardidas e o rabinho abanando, implorando por carinho, enquanto ela fazia pouco caso dele enquanto assistia aos chatíssimos programas de TV que se arrastavam por tarde intermináveis - Ai, como era difícil essa vida de viúva aposentada!
Mas Deus...não tinha jeito de saber se Ele a ouvia: nunca tinha parado para pensar nisso. Muito provavelmente, ele teria mais o que fazer do que ouvir as baboseiras de uma velha chata e sozinha.

Verdade que ela nem sempre fora assim.

Era uma moça bonita - olhos verdes, pele morena, e uma cinturinha muito fina, que os rapazes gostavam de tocar enquanto ela fingia nem perceber. Adorava dançar: tinha sapatos de tiras lilases que giravam pelo salão enquanto um sorriso explodia pela face limpa de culpas ou afãs esquecidos. Era menina fazia o que desejava. Deixava-se levar pelos rapazes para trocar beijos a trás da Igreja e não escondia a maior das caras feias quando a mãe lhe torrava a paciência para que se arrumasse logo – já era hora da missa!
Enquanto o padre partia a óstia no altar, trocava comentários venenosos com a amiga que sempre a acompanhava, e que fazia pouco caso das aventuras dela, não deixando, porém, de encontrar graça nos seus relatos. Era essa a amiga que lhe emprestava os romances que mamãe não a deixava ler, e que lhe relatou pela primeira vez como era bom beijar um moço bonito. Foi ela também que lhe fez cara feia quando logo lhe contou que pensava em se casar com aquele rapaz do sobrado em frente à praça.
- Credo, Ana. Ele nem é tão bonito, e tem a cabeça do tamanho de um alfinete.
E a Anoca respondeu que ele ganhava tanto e tanto, e que o pai tinha tal e tal fazenda assim e assado.
- Credo, Ana. Mas é uma família mais carola que a sua.
E a Anoca respondeu que dava um jeito no marido, e se jeito não tivesse, ela fazia de noite o que bem entendesse, e ele que de dia acreditasse dormir com uma tontinha.
A amiga censurou-a ainda mais. Não houve o que tirasse de sua cabeça que deveria casar-se com aquele moço tão rico, mas tão vazio de si.
Era da família dona da cidade, e lhe daria os mais bonitos vestidos – para matar de inveja as maricotinhas que torciam o nariz para as costuras da mamãe.
No dia do casamento, chorou de soluçar. Perguntaram-lhe se estava triste. Ela respondeu que era a alegria de ver seu sonho realizado – enquanto a traquéia três vezes protestou, traindo-a com tons de profeta.
Dessa vez, mamãe é que pediu que não se apressa-se. Fez questão de ela mesma ajeitar a mantilha da bisavó sobre o rosto emocionado da filha.
A Anoca mal teve coragem de beijar o marido fulano de tal ao fim da cerimônia. Forçou-se a não olhar para o namorado de poucos meses, que já então era antigo. Vestia sapatos de um branco puro - que amordaçavam seus pés, ainda tão cheios de vontade de dançar.
Foi boa mulher. Lavou, passou, engomou e chorou. Deixava que o marido se deitasse sobre ela sempre que quisesse. Perdeu a coragem de sentir prazer no dia em que ele lhe perguntou porque ela gemera como uma vagabunda. A indiferença vestiu-se em asco. Os sapatos brancos passaram a massacrar seus joanetes.
Um dia teve um amante. Não podia mais rodar nos salões com seus calçados de tiras lilases, mas não temia pintar a boca de carmim. Quando lhe perguntavam o porquê da nova cor, respondia que era a alegria de ser mãe.
O marido não acreditou. Mas, também, pouco lhe importava. Só não pôde ficar quieto quando deu com o namorado da sua honrada esposa passando pela rua de sua casa. Disse duas palavras, talvez três, e o safado nunca mais apareceu. Ao entrar, presenteou a mulher com um tabefe, e pediu que ela mesma lhe esquentasse a janta.
O tapa doeu – “como uma vagabunda” - Tanto que ela precisava contar a alguém. Mas não havia mais amigas de ouvidos livres para entende-la. Mamãe diria, talvez, que o marido estava certo. Pensou até em confessar-se. Ah, nunca se confessava mesmo. Será que se arrependia?
- Então por que o tapa continuava a doer? (“vagabunda!”)
- E se contasse – tudo – ela mesma para Deus?

Foi mais fácil. Ele a ouvia em silêncio. Mais um pai nosso - e a ausência de palavras que a reconfortava. Depois ficou fácil dizer tudo aos sacerdotes, ao ‘falar’ servilmente com Quem Tudo Pode sentia-se pura, digna dos sapatos brancos que calçava. E, tão pura, não perdeu mais nenhuma missa. Viu os filhos crescerem sem que se esquecesse de lhes dizer que não se atrasassem para a Igreja.

Amém.

E Dona Ana rola e rola sua corpulência sobre uma cama de viúva. Como saber se Deus poderia escutá-la? Ah, melhor que ela não o contrariasse! O Fredi, ele vai ficar feliz com um pedaço de carne amanhã. Carne: ele não pede nada além disso! Ele nunca lhe deu um tapa!

segunda-feira, 9 de março de 2009

Conflito da razão desmedida

Nós não podemos ser um.
Se formos, nós não seremos mais.
Se disse que nada disse,
Mentiu:
Nada você não disse!
Melhor, pois, não te dar ouvidos.
Se desse, surdo ficaria.

E raios que o partam! (literalmente?)

domingo, 8 de março de 2009

Tu não te suportas

Onde não foste
tão possível ires
pistas de flores
não bordaste 
em teu quintal.

Tão logo te fizeste
da carne metal
tão logo não te farias
margaridas
desta tua alma estreita.

Te fazes feliz
- pensa nas nuvens
que não existem
nos céus que não podem 
ser
já não mais
partiste em rumo
-foi-se pedaço de ti.

E ainda que vida
em pântano
choraria riso
forçado de roseira.

(Mas a tua náusea
ela o chama,
provoca,
chinga:

Boçal!)


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Minha Estrela


Fotografia de Belém Neto - 05/2008.


Música e letra por "Beteto & Diego Nyko"

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Quem eu não sou, feliz é

Quem eu não sou, feliz é.
Quem tu és, jamais serei,
Pois contenta-te com fé,
Isto que eu jamais terei.

Se caminho só, alfim
É porque não tenho calma.
E a alma que tu vês em mim
É mais uma que não me acalma.

Pois sou nada do que sou,
E tudo que em mim existe
Não foi Ele quem me fadou,
E ainda sim não vivo triste.

Só consiste em viver só
Do mundo de toda a gente.
Onde quem sente tem dó
Sentimento em mim ausente.

Não sou nada do que sinto,
Pois nada sinto além disso:
Que sou o que minto
E minto o que pressinto.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

JANEIRO DE 2009

Este é um começo de ano que já começa turbulento, com cara de fim. Tenho pensado bastante nisso.

Tanto que até escrevi algumas crônicas sobre as atrocidades da desumana estupidez impregnada no confronto 'Israel versus Palestina'. Uma delas era até 'postável', se não estivesse agora perdida no meu pobre micro - que já amarga mais de vinte dias, esperando serem resolvidas pendengas do seguro residencial, para ser concertado. 

...

Enquanto bombas explodiam no oriente médio - quase em uníssono com fogos de artifício ocidentais desejosos por um 'feliz' ano novo - continuava a loucura (ainda maior!) dos mercados. Assim, como um 'presente' de dia de reis (e, aliás, quem governa essa balburdia?), milhares de sobrinhos do Uncle Sam levaram digníssimos pés na bunda, e foram para a fila do seguro desemprego (o que, aliás, está começando a acontecer por aqui: pois é, né, quem disse que o Brasil ia escapar dessa mesmo?).

E, no meio desta tremenda bagunça, a 'América' DELES surpreende o mundo com a imagem, cheia de esperança, de seu primeiro presidente negro (?), e ainda por cima filho de um muçulmano.

O que esperar disso tudo? Gostaria muito de dizer 'o melhor'. Infelizmente, qualquer pessoa sã não diria essas palavras. A barbárie em Israel parece querer por fim a si mesma - mesmo com todas as aparentes 'tréguas' - apenas quando irmãos semitas, judeus e muçulmanos, estiverem cara a cara no dia do Juízo Final (e como tal evento ainda não tem data marcada, e sequer foi mesmo 'confirmado'.................). 

A loucura (ainda maior) dos mercados parece estar apenas começando - e se esta já não fosse uma metáfora bem manjada, clichê mesmo, eu diria que a pobre Alice está apenas começando a perceber em que 'Maravilhoso' país foi se meter.

E o Obama? 
Ele me parece simpático. Falou em responsabilidade da América (DELES!), mas também não disse nada em deixar essa história de hegemonia pra lá (se bem que com toda essa confusão financeira, talvez nem precise...). Repetiu várias vezes que deseja que no seu país haja oportunidades iguais para todos - e mesmo sem grandes malabarismos de oratória, essa parte do seu discurso de posse me tocou. 

Ao menos ele tomou providências para fechar a tão famosa prisão de Guantanamo, algo que era de se esperar para a mínima coerência de um antigo advogado de direitos humanos. 

Uma esperança?

Bem... Sensato ou não, idealista ou não, politiqueiro ou estadista, não vai fazer grande diferença. Mesmo que Obama seja tudo o que aparenta ser, ele apenas é uma pessoa - que, francamente, soube vender de maneira magistral uma imagem de mudança em tempos tão incertos para nossos hermanitos lá de cima... 

Apenas uma pessoa - enquanto toda a engrenagem, ainda que capenga, continua a funcionar.

...

E assim vai terminando o primeiro mês de um ano que, muito provavelmente, ainda trará explosivas surpresas. Aguardemos!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Obama de barraca armada no Planlto Central!

Parece piada, mas Barack HUSSEIN Obama não vai ter que lidar com Saddam HUSSEIN graças ao Bush! Porém pode sobrar para ele e seu vice Joe Bi(nla)den resolver a questão do Obama.. ups! Do Osama!

Mas pelo que ele demostra, fará igualzinho o Lula, vai tratar todo mundo como companheiro - como fez hoje com Bush em seu discurso de posse - e a esperança vai vencer o medo, ou como ele mesmo disse: "nós escolhemos a esperança sobre o medo". Afinal, observem os discursos dele, não foi nem Hussein nem Laden quem o ensinou, Obama armou a barraca foi no Planalto Central! Aprendeu a discursar com o Lula! Ou alguém tem dúvida disso?

Ou seja, ajeitem-se em suas poltronas, pois esse caminho nós brasileiros já conhecemos bem. Quem tem esperança, espera! C'est la vie! E viva Lula e Obama juntos no PC! Mas sem comunismo, apesar da foice...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Pouco seria se eu te beijasse inteira

Pouco seria se eu te beijasse inteira,
Pouco seria se eu te amasse demais,
Pois cada vento que sopra me cheira
A eternidade só nossa e de ninguém mais...

E cada vez que eu te vejo na beira
Dessa estrada que deixamos pra trás,
Nada penso de além que tu me queiras
Como o homem dos teus sonhos e de ninguém mais...

E assim, a minha volta encarna o teu desejo,
Ilha sepulcra de tudo o que tenho feito,
Medo onusto que entoa todo o meu latejo,

Desfigura nossa alma por dentro do peito,
Não só meu, mas também teu, quando não te vejo
Lá, no enlaço dos meus braços em nosso leito.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um pouco de sonhos...


"Sandman: Eu agradeço. Os reis do inferno são honrados. Me lembrarei disso.

Lúcifer: Honrados? Você zomba, claro? Olhe ao seu redor, Morpheus.
Os milhões de Senhores do Inferno o cercam. Diga-nos por que devemos deixá-lo partir.
Com elmo ou não, você não tem poder aqui... que força tem os sonhos no inferno?

Sandman: Você diz que não tenho poder? Talvez fale a verdade... Mas... dizer que SONHOS não tem poder aqui? Me diga, Lúcifer... Perguntem todos vocês... Que poder teria o inferno se os que aqui aprisionados não fossem capazes de SONHAR com o PARAÍSO?"


Neil Gaiman in "Sandman: Prelúdios e Noturnos", Vol.1. Pixel Editora, 2008.