quinta-feira, 11 de junho de 2009

XIII

Meus olhos maiúsculos não te vêem mais.
É tempo de cólera no amor e na amizade.
Meus ouvidos já não têm mais a sua voz...

Voz de cantiga sussurrada
Que me deixava toda suada...
Não existe paz.

É tempo de puro desalento,
E o mundo gira muito mais lento.
Todo o dia parece como noite.
Toda noite soa infinita

-Porque a gente nunca fica.

Ficamos há algumas quadras de distância,
Mas nada mais tem relevância.
"Sino el miedo", a tristeza abafada,
O ressentimento e o orgulho.

-É uma amizade que não parece tão pesada,
Mas merecia a pitada de um mergulho.

Um mergulho no oceano da coragem
Que ceifasse entre nós a dissonância,
E quiçá estes fatos parnaseanos.
Chega de tanta redundância!

O tempo nunca muda;
Os homens nunca mudaram;
O mundo é sempre o mesmo.
Contudo, tudo parece mudo...

-Agora, que já não há mais nós.

Todavia, nós, nunca existimos.
Jamais, juntos, desatamos os nós.
E após meses nos descobrimos sós.

-É vazio e branco todo o nosso imo.

E agora, Fulano?
O que fazer agora que o ponteiro
do relógio já não marca mais a hora?

É doída Fulana?
Como levar essa vida dorida e arrasada
Se já não mais pode ser tão fingida?

Dizem que tudo que tem começo
Um dia há de ter fim.
Dizem também, que todo amor
Deve ser vivido até o fim...

Mas onde está o começo disso em mim?
Como pode ser assim,
Se nunca houve amor além de muita dor?
Se nunca houve dor além de muito gim?

Se nunca houve nada,
Há de haver um dia?
Há de haver alegria?
Ou serei sempre afastada?

E a pergunta que fica
é "quem jogou tudo fora?"
Mas agora não é hora
pra metafísica.

Digo:

"Jamais se conhece um animal
que vive fora de seu 'habitát'.
E me desculpe se agi mal.
Mas por favor, não me maltrate."

A vida é assim mesmo: aleija.
A boca que te sorri
Nem sempre é a que te beija.
Erro que cometi...(ou não).

Mas as estações não mudaram por isso.
A primavera continua a dar flores.
E outros amores virão. Abra um sorriso
E caminhe. E onde quer que fores
Não carregue o siso dos amores.

"C'est la vie".
Dura, sofrida, muda
E imunda.
Mas aprecie,
Só temos uma.

E de que adianda um poema?
E de que adianta uma canção?
E de que adianta um amigo?

E pra quê serve o dia ou a noite
Se não podemos voar como o boita?
E pra quê serviria voar?

Ame, e tudo fará sentido.
Goze, e não será fingido.
Mas lembre-se que amores vem e vão
E nestes voos, não perca o coração.

Um comentário:

Laura C. disse...

Realmente muito bonito!


Consigo imaginar alguém declamando esse poema enquanto toca em som ambiente "Atrás da Porta", do Chico (mas que intimidade!).