domingo, 11 de maio de 2008

Odes à mãe ausente

Seguem duas Odes de uma série que fiz já faz algum tempo. Peço desculpas pelo sentimentalismo do momento.
Em breve, mais Odes estarão desponíveis.


I

Se sei, digo que sei de ouvir dizer
Teu monólogo aos ventos. Eu, criança,
Que aprendi cantigas de teu ninar,
Que disse as palavras que tu disseste.
Mas aquela, tantas vezes,
Aos prantos meus, exaltada,
Primeira entre todas: mãe,
Não é mais pronunciada
Pelos lábios inseguros
De um homem que agora canta
As lembranças musicais,
Ninando-te eternamente.


II


Confundir não deves, amada mãe,
O silêncio, próprio de quem se cala,
Com tua ausência de sons.

Bem sabes que não há pior silêncio
Do que aquele que, calando, diz nada.
Muito disseste, não lembras?

Quando o meu rosto tua mão tocava
E nada! Nada era ouvido – lembraste?
Tu me dizias o mundo!

O teu dizer no passado ficou
Feito estrela que emudece, contudo,
No presente ainda brilha.

Tua voz uma vez dita e não mais,
Segue reverberando em mim, então
Ouça bem: de ti, sou eco.

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