segunda-feira, 30 de junho de 2008

Odes à mãe ausente

V

É tão inoportuno o meu pensar no após,
Ser onírico sou.

Com a morte inquieto-me e não com a vida
Que segue e por mim passa.

Sempre assim é: quando estou cá, não mais estou.
E se estou, não sou mais.

Quando o perfume sinto das folhas que caem
Vislumbro a primavera

E assim que floresce a primeira rosa nossa
Vermelha, vejo-a murcha.

Se há chuva, quero um sol brilhante bem acima
Só pra ver o arco-íris.

Quando o vejo, contudo, não o vejo mais
Pois pelo seu fim temo.

Aquele que, como eu, no amanhã sempre vive,
Certo não viverá,

Já que para os deuses não há sujeito oculto.
Só há sujeito omisso.



VI

Não podemos esquecer de que queimam
Tanto o frio quanto o calor,
De que cegamos quando há escuridão
Ou para o sol olhamos.

Devemos reter na memória o choro
De alegria e tristeza
E lembrar que as árvores perdem folhas
Mas voltam a florir.

Há dor, portanto, na vida e na morte,
E dela não há fuga.
Feito as árvores somente sejamos
E a florescer voltemos.

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